Bibliotecas terão "Harry Potter"

Novas compras de livros incluem clássicos como A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi, e sucessos populares, como Harry Potter, de J.K. Rowling, além de Drummond, Lima Barreto, Clarice Lispector

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Por Agencia Estado
Atualização:

No fim de 2001, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo concluiu um processo de compra de 3 milhões de livros para bibliotecas do ensino médio de São Paulo, envolvendo R$ 20 milhões, no programa Leia Mais. A Secretaria montou uma biblioteca básica, de 300 títulos, e pediu para que cada escola indicasse mais um livro para cada estudante matriculado no ensino médio - as escolhas deveriam ser feitas a partir de uma cesta de 1.934 títulos pré-elaborada pela Secretaria. Entre os 300 títulos comuns estão obras clássicas, como A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi, e Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, e sucessos populares, como a saga de Harry Potter, de J.K. Rowling, e O Hobbit, de J.R.R. Tolkien (além de nomes como Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto, Clarice Lispector, etc.). Mas a biblioteca que as escolas poderiam montar não se limitava à literatura: para a área de história e geografia, por exemplo, foram oferecidos 277 títulos, entre eles A Era das Revoluções, de Eric Hobsbawn, A Devassa da Devassa, de Keneth Maxwell, Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e A Formação das Almas, de José Murilo de Carvalho. Também foram colocados à disposição das escolas dicionários, livros sobre arte, psicologia, filosofia e informática, entre outros assuntos. Abriu-se, dessa forma, a possibilidade de que as escolas montassem bibliotecas que combinem lazer e pedagogia. Em 2002, é preciso ver se as bibliotecas funcionam de fato: ou seja, se ficam abertas, se os livros circulam, se há algum tipo de orientação. Para isso, não basta o acervo, é preciso dar atenção ao funcionário que cuidará dele. Quem estuda ou estudou em escolas públicas sabe que, se não há uma política clara para elas, as bibliotecas funcionam de acordo com a importância que os diretores e professores lhes dão - o que pode deixar muitos desses livros encaixotados numa sala escura, com a chave em poder do chefe dos inspetores de aluno. Embora seja apenas um primeiro passo, a compra da Secretaria tem uma grande qualidade que não pode ser negada: o de descentralizar a escolha, permitindo que as salas destinadas aos livros reflitam as necessidades específicas de cada escola e as vontades dos professores e dos alunos. Ao mesmo tempo, o acervo básico cria um repertório comum, favorecendo o diálogo e a troca de experiências entre os professores da rede estadual. Enquanto a Secretaria de Estado realizava essa compra aberta, o Ministério da Cultura se embananava na seleção do Uma Biblioteca em Cada Município, desconsiderando uma pré-seleção que a própria Secretaria do Livro e da Leitura encomendara. E o Ministério da Educação organizava uma compra fechada de 12,18 milhões de coleções, de cinco livros cada uma, que crianças matriculadas na 4.ª e 5.ª levarão para casa. São, no total, 30 títulos, produzidos por apenas seis editoras - há livros em quantidade, como pede uma política pública, mas falta um pouco de diversidade. Essas compras refletem, ao mesmo tempo, a preocupação em elaborar políticas de leitura e a falta de unidade entre as várias que estão surgindo. Governo federal, Estados e municípios não trocam experiências nem atuam conjuntamente. Assim, enquanto se faz o necessário aparelhamento das escolas e doam-se obras aos estudantes, grandes bibliotecas públicas, como a do Centro Cultural São Paulo (a mais freqüentada da cidade), estão há mais de meia década sem verbas para a aquisição de novos exemplares.

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