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Biblioteca Nacional do Iraque é incendiada

Por Agencia Estado
Atualização:

Saqueadores e vândalos roubaram e incendiaram a Biblioteca Nacional do Iraque, transformando preciosos livros em cinzas e destruindo uma importante parte da herança cultural da nação. Eles também saquearam e queimaram a principal biblioteca islâmica do Iraque, que abrigava antigos manuscritos corânicos e religiosos, de valor inestimável. "Nossa herança nacional está perdida", afirmou com revolta o professor secundário Haithem Aziz, na frente do prédio enegrecido da Biblioteca Nacional. "Os mongóis modernos, os novos mongóis fizeram isso. Os americanos fizeram isso", denunciou. Aziz referia-se aos saques de Bagdá promovidos no século 13 pelos mongóis. Há rumores de que os saques que têm destroçado a capital por mais de uma semana são liderados por kuwaitianos e outros não-iraquianos insuflados pelos EUA visando retirar tudo de valor da cidade. Mas do lado de fora do que sobrou da biblioteca islâmica, no complexo do Ministério de Assuntos Religiosos, um saqueador solitário escapando com seu butim era inegavelmente iraquiano, um homem grisalho chamado Mohamed Salman. "Isso foi deixado para trás, então por quê não levá-lo?" perguntou ele ao repórter, referindo-se a um grosso livro de capa vermelha, um catálogo da coleção religiosa da biblioteca. No interior do edifício, a cena era de devastação. Nenhum livro ou manuscrito podia ser reconhecido no meio das escuras cinzas. Os saques das bibliotecas, que ocorreram aparentemente na segunda-feira, seguiram-se aos roubos que esvaziaram o Musseu Nacional Iraquiano, que abrigava extraordinários tesouros das culturas ancestrais babilônica, suméria e assíria, um acervo que relatava o papel da região como "berço da civilização" milênios atrás. Como conseqüência da guerra, essa dupla pilhagem dos guardiões da cultura iraquiana são um terrível golpe para a identidade nacional, numa sociedade que se orgulha de suas universidades, literatura e sua educada elite. O prédio de três andares da Biblioteca Nacional, de 1977, abrigava todos os livros publicados no Iraque, inclusive cópias de todas teses de doutorado. Ele também preservava antigos livros raros sobre Bagdá e a região, livros historicamente importantes sobre lingüística árabe, e antigos manuscritos em árabe que o professor Aziz disse que estavam sendo gradualmente transformados em versões impressas. "Eles tinham manuscritos dos períodos otomano e abácida", lembrou Aziz, referindo-se a dinastias de mais de um milênio atrás. "Todos eram preciosos, famosos. Sinto tanta tristeza". Nenhum funcionário da biblioteca pôde ser localizado para estimar as perdas. Haroun Mohammed, um notável escritor iraquiano radicado em Londres, disse à Associated Press que alguns antigos manuscritos haviam sido transferidos para a Casa dos Manuscritos, do outro lado do rio Tigre, no oeste de Bagdá. Exceto por alguns móveis, que não se sabe como escaparam das chamas, nada sobrou na ala principal da Biblioteca Nacional além de suas paredes e tetos chamuscados e um monte de cinzas. Rolos de microfilmes estavam espalhados pelos pátios. "Esta era a melhor biblioteca no Iraque", explicou o estudante de música Raad Muzahim, 27 anos, entre uma pilha de papéis na sala de periódicos. "Lembro-me de ter vindo aqui como estudante. Eles eram hospitaleiros, deixavam os estudantes fazerem suas pesquisas, escreverem seus trabalhos. "Isso não pode ter sido feito por iraquianos", insistiu. Veículos blindados de marines americanos estavam posicionados em ruas próximas. Mas eles nada faziam para parar hoje os saqueadores remanescentes.

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