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Biblioteca Mário de Andrade volta à ativa

Colégio de São Paulo é um programa de aulas que será inaugurado neste sábado pela filósofa Marilena Chauí, marcando o início da gestão do novo diretor José Castilho Marques Neto

Por Agencia Estado
Atualização:

Às 14 horas deste sábado, a professora de filosofia da Universidade de São Paulo Marilena Chaui dá a primeira aula do Colégio de São Paulo, que funcionará na Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Seu curso, em quatro aulas (e lotação já esgotada), fará uma introdução à história da filosofia. Na segunda-feira, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão apresenta um curso sobre clássicos da literatura universal que terá um total de 17 aulas diárias, sempre às 19h30, dadas por um selecionadíssimo time de professores - na terça, Henrique Murachco fala sobre a obra de Homero; na quarta, Mary Lafer discute Hesíodo; na quinta, Heitor Megale aborda A Demanda do Santo Graal. O programa coordenado por ela termina no dia 18 de julho, com Flora Süssekind falando sobre Dom Quixote. O projeto do Colégio de São Paulo marca também o começo de uma série de mudanças na biblioteca, considerada a segunda maior do País, mas que tem visto seu público declinar nos últimos anos. Segundo dados da secretaria, a biblioteca recebeu em 5 anos cerca de 950 mil leitores e cerca de 200 mil visitantes em eventos, números bastante modestos para a instituição - ainda mais levando-se em consideração que a Mário de Andrade está num dos pontos mais acessíveis da cidade, também por meio de ônibus quanto de metrô. O Centro Cultural São Paulo, o aparelho cultural da Prefeitura mais freqüentado, tem uma visitação anual de cerca de 500 mil pessoas. Nesta semana, a Prefeitura também anunciou o novo diretor da instituição: José Castilho Marques Neto, que acumulará o cargo com sua atual função: a de diretor-presidente da Editora Unesp, da Universidade Estadual Paulista, talvez o mais bem-sucedido projeto de editora universitária dos últimos anos. Formadora de intelectuais - Formado e doutorado em filosofia pela USP (sua especialidade é a formação das idéias marxistas no Brasil e o pensamento de Mário Pedrosa), Castilho afirma que pretende voltar a fazer da biblioteca um pólo de agitação cultural. Assume um projeto já parcialmente elaborado, que inclui a transformação da Mário de Andrade em departamento, ampliando sua autonomia. Segundo Garcia, é possível que, no futuro, a biblioteca se transforme numa autarquia, conseguindo, assim, uma autonomia ainda maior. Grandes pensadores brasileiros se formaram em conversas e pesquisas na Mário de Andrade, uma história narrada, entre tantos outros lugares, num livro editado pela Unesp: Memórias de um Autoditada, um depoimento de Maurício Tragtenberg. Autodidata, o sociólogo, de uma família pobre do Bom Retiro, narra, entre outras coisas, o papel fundamental que a Mário de Andrade e centros culturais de bairro tiveram na sua trajetória intelectual. Nos últimos anos, contudo, faltou de tudo: de investimento em informática a verba para a simples compra de livros. De 1989 a 1992, a Secretaria da Cultura gastou US$ 5 milhões na compra de obras para toda a rede municipal de bibliotecas. Nos oito anos seguintes, foram apenas R$ 2,7 milhões. Em 2001, a verba chegou a R$ 500 mil, subindo modestamente para R$ 550 mil em 2002. Neste ano, devem ser comprados 65 mil volumes, enquanto em 2001 foram 60 mil. "A Mário de Andrade foi abandonada pelas duas últimas gestões; não havia um projeto para ela; se esse processo tivesse continuado, ela entraria num declínio irreversível", afirma o secretário municipal de Cultura, Marco Aurélio Garcia. A indicação de Castilho, o primeiro não-biblioteconomista a assumir o posto desde 1974, foi, segundo ele, uma opção positiva. "Grandes nomes que dirigiram a biblioteca, como Mário de Andrade e Sérgio Milliet, também não eram biblioteconomistas." Para Castilho, a biblioteca sofreu não apenas com a falta de investimento, mas também com a deterioração do centro da cidade. "Mas não se pode colocar a culpa sempre do lado de fora; se ela tivesse continuado a ser uma ilha de excelência, teria também continuado a ser um pólo cultural importante da cidade." Castilho afirma que pretende dividir seu dia entre a editora (cuja sede fica na Praça da Sé) e a biblioteca, que tem atualmente 142 funcionários. Da Unesp, está levando dois assessores. Também promoveu à diretoria técnica da Mário de Andrade a biblioteconomista Marfísia Lancelotti, que trabalhava na seção circulante da Mário de Andrade, que fica na Rua da Consolação, na altura da Maria Antônia. Em agosto, deve ser iniciada também uma reforma do prédio da biblioteca. Entre as mudanças, está prevista a construção de três andares subterrâneos, para armazenar livros e a criação de uma área de estacionamento, a ampliação do espaço destinado à leitura e a instalação de um café num dos vários terraços do prédio. Em sua primeira fase, as obras estão orçadas em R$ 3 milhões. A biblioteca também deve acabar se beneficiando de reformas em seu entorno, a serem promovidas pela Emurb. Pelo projeto da Prefeitura, as grades que a isolam devem ser retiradas, num modelo próximo ao que reintegrou a Pinacoteca do Estado ao Parque da Luz.

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