Bibi se impõe a tarefa de ser Portugal

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Por Agencia Estado
Atualização:

Quando Amália Rodrigues morreu, no fim de 1999, Portugal estava às vésperas de uma eleição. Em sinal de respeito, todos os partidos políticos tiraram música, qualquer música, de suas propagandas - todos. Candidatos de qualquer tendência perceberam que seria uma agressão ao povo português usar música, naquele momento. Tente-se imaginar que intérprete provocaria isso, aqui. Que intérprete fosse tão identificado com a totalidade do povo brasileiro a ponto de provocar reação como essa por parte dos políticos. Não há. Talvez porque o nosso seja um país maior, com quantidade enorme de músicas regionais, muitos sotaques, muitas preferências. Seja como for, é espantoso que a morte de uma cantora determinasse o silêncio musical, em qualquer parte do mundo. Amália era, como talvez nenhuma outra cantora do Ocidente, a voz de sua terra, a tradução completa e perfeita do som identificador de sua gente. A tarefa que Bibi Ferreira se impõe não é, assim, tão-somente a de uma grande atriz que resolve transfigurar-se numa cantora ímpar (ela fez coisa semelhante quando viveu Piaf). É de quem se impõe a tarefa de, mais do que ser portuguesa, ser Portugal.

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