PUBLICIDADE

Beth Goulart estréia como autora teatral

A atriz Beth Goulart estréia amanhã no Rio como autora e produtora teatral. O tema não poderia ser melhor: o romance platônico entre Nelson Rodrigues e a avó dela, Eleonor Bruno. Para Eleonor, Nelson escreveu Dorotéia, o que inspirou Beth a criar Dorotéia Minha

Por Agencia Estado
Atualização:

O caso de amor (platônico), entre o escritor Nelson Rodrigues e a atriz Eleonor Bruno, nos anos 40, ficou só entre as duas famílias até Ruy Castro revelar o segredo no livro O Anjo Pornográfico. Agora, a atriz Beth Goulart, neta dela, transformou a história em sua estréia como dramaturga com o monólogo Dorotéia Minha, que inicia temporada amanhã no Espaço III do Teatro Villa-Lobos. Beth se baseou em cartas apaixonadas que o escritor mandou para a avó e o título se refere à peça Dorotéia, escrita por Rodrigues para ser o primeiro trabalho de Eleonor nos palcos. "Eu não conto a história deles nem cito frases de Nelson na peça, apenas viajo no seu universo. Nada aconteceu porque ele era casado e ela não admitia interferir em um casamento. Mas foi importante, tanto que as cartas ficaram guardadas até hoje", conta Beth, que começou a trabalhar no texto há um ano, para uma performance no Festival de Teatro de Ribeirão Preto. "Tinha só meia hora e eu mesma cuidei da direção. Agora, o texto foi ampliado e chamei Victor Garcia Peralta, o mesmo de Decadência, para dirigir-me." No palco sozinha, Beth vive uma cantora de cabaré, a Dorotéia, a quem se refere como Ela; o escritor apaixonado, não necessariamente Nelson Rodrigues, que é chamado de Ele, e o narrador da história, entremeada de números musicais. Apesar de nos últimos tempos ter se destacado mais como atriz (foi a ciumenta e cômica Lidiane na novela O Clone), Beth Goulart é cantora (viveu Linda Batista em Somos Irmãs) e já compôs algumas músicas. "Desta vez canto The Man I Love, Cry me a River e uma canção Tu e Eu, que fiz em cima de versos de Rume, poeta sufi do século 12", adianta ela. "Há também uma trilha sonora pré-gravada, feita pelo saxofonista Zé Nogueira." Mesmo sem ter conhecido Nelson Rodrigues pessoalmente, a atriz procurou seus trejeitos e entrar no seu mundo, embora não haja citações diretas. "Em determinado momento, por exemplo, a minha personagem diz que renuncia a esse amor porque jamais destruiria uma família. Essa frase não existe no Nelson, mas é a cara dele", adianta a atriz/autora. Para compor esse personagem, pesquisei também elementos conhecidos por todo mundo que conviveu com ele, como o fato de estar sempre com um cigarro na boca e viver com a mãos nos bolsos, como se procurasse algo." Ela também não copiou o texto das cartas enviadas pelo escritor (não há notícia das cartas em respostas, mandadas pela avó dela, Eleonor Bruno). "Tentei imaginar como eu reagiria a esse tipo de correspondência, a essa paixão que não podia realizar-se na época. Se hoje é difícil ter um romance com um homem casado, imagine há 60 anos", comenta. "Minha intenção é mostrar o amor como inspiração e provocação para uma obra de arte." Beth estréia como autora quando está perto de completar 30 anos de carreira (em 2004) e considera a atividade complementar à de atriz. "Sempre escrevi pensando na cena e agora ficou melhor porque quando eu subo no palco, sai a autora e me sinto completamente à vontade para mudar o texto. Com a participação do Victor, fica mais fácil porque ele vai junto comigo", diz. Estar só no palco não é novidade para ela, que fez Pierrot, em 1991, e difere totalmente de suas experiências mais recentes. De Somos Irmãs, uma superprodução, ela emendou com Decadência, um dueto com o ator Guilherme Leme, e foi direto para Os Acidentes do Rio Otta, outra superprodução. "Teatro é sempre um trabalho de equipe porque mesmo em um monólogo tem muita gente trabalhando por trás, nas coxias", explica ela. "Gosto de todas essas situações, pois em cada uma delas há um lado a ser exercitado. O bom é variar."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.