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'Berio Sem Censura' é um triunfo criativo

A estreia da ópera multimídia de Jocy de Oliveira ocorreu na sexta passada no Sesc Vila Mariana

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Por Redação
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Crítica: João Marcos Coelho Avaliação: Ótimo Quase duas horas e meia de espetáculo multimídia, com música, projeção e textos que capturaram de modo admirável e consistente o pequeno público presente sexta-feira passada no Sesc Vila Mariana, na estreia de Berio Sem Censura, ópera multimídia de Jocy de Oliveira. Em plena maturidade, Jocy refaz criativamente seu percurso como pianista e compositora, ancorando-se no convívio com alguns dos maiores compositores do século 20. Ao contrário do espetáculo Stravinski, de algum tempo atrás, esse Berio Sem Censura é um verdadeiro triunfo da Jocy criadora dramática. O espetáculo é construído como um crescendo dramático constante, com direito a ilhas climáticas emocionantes. E é isso que faz sua grandeza e excepcionalidade. Jocy conheceu Luciano Berio nos anos 60, nos EUA. E a empatia, estética e afetiva, foi imediata. Ele dedicou-lhe sua Sequenza nº 4, para piano solo; ela absorveu a estética revolucionária e inclusiva do autor da Sinfonia e das Folk Songs. Entre arroubos apaixonados, Jocy foi capaz de recriar, no palco, em produção sofisticada, os momentos-chave de música e performance da mais alta qualidade. Algumas ilhas climáticas foram particularmente impactantes. Como, por exemplo, a intervenção de Fernanda Montenegro, infelizmente só em vídeo, dando seu depoimento sobre a histórica montagem de Apague Meu Spotlight, em 1961, nos teatros municipais do Rio e São Paulo, do qual Berio participou. Ou a segunda execução mundial pública da primeira versão da Sequenza IV por Jocy. A soprano Gabriela Geluda esteve impecável na pele da supercantora Cathy Berberian, inspiradora das maiores aventuras vocais de Berio. Impecáveis também os atores Lucas Gouvêa, que encarnou Berio, e Gabriela Carneiro da Cunha (Jocy nos anos 1960). Destaque para o notável grupo instrumental que pontuou a narrativa com fragmentos de peças de Berio e Jocy. Onze músicos de primeira linha, destacam-se o violoncelo de Peter Schuback, a clarineta de Paulo Passos, o violão de Aloysio Neves, a percussão de Joaquim "Zito" Abreu e a coordenação musical e eletroacústica de Marcelo Carneiro.

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