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Bendita Trupe critica violência urbana em nova peça

O grupo cria fábula poética para falar de violência urbana, em Miserê Bandalha. No palco, o público vai encontrar o humor negro e politicamente incorreto peculiar à trupe

Por Agencia Estado
Atualização:

Para quem não se lembra, esse grupo criou Os Collegas, tragicomédia que levou ao palco os principais personagens do noticiário político da chamada Era Collor. Desta vez, a trupe dirigida por Johana Albuquerque debruçou-se sobre o tema da violência urbana em Miserê Bandalha, que estréia amanhã no Teatro João Caetano. A principal fonte de pesquisa foi o material colhido num ciclo de palestras organizado pelo grupo com apoio da Lei de Fomento, envolvendo dezenas de convidados, entre eles escritores como Fernando Bonassi e Ferréz, lideranças comunitárias como Góes, de Cidade Tiradentes, e a ex-menina de rua Esmeralda do Carmo Ortiz. Com essa matéria-prima - cuja edição em breve estará disponível em DVD - os atores criaram muitas cenas e a dramaturga Claudia Vasconcellos foi convidada para redigir o texto final. O grande desafio, nessa linha de trabalho, é ir além da mera reprodução do que já se sabe pelo noticiário. "Para escapar disso optamos pela fábula", diz Johana. "Buscamos fugir da heroicização do bandido e da associação entre violência e pobreza. Tentamos revelar uma espécie de rede de intrigas que envolve toda sociedade e na qual a grande violência é resultante da busca desesperada por dinheiro como meta de vida", diz Claudia. Johana concorda: "Atualmente, todos acreditam que esse é o padrão que vai trazer felicidade. A falta de conexão humana provoca violência em todas as classes." No palco, o público vai encontrar o humor negro e politicamente incorreto peculiar à trupe. Ele está presente, por exemplo, num diálogo entre os amigos Sinistro (Germano Melo) e Marciano (Maurício Barros) no qual eles fazem uma relação entre Lampião, Escadinha e o Juiz Nicolau dos Santos. Preste atenção nessa cena, porque esse diálogo será retomado, ao fim da peça, na forma de dolorida e cortante poesia. A trajetória de um grupo de amigos de infância que vivem no Morro do Pipoco é o fio condutor da peça: um deles vira "poliça", outros bandidos e outros ainda, claro, ficam na linha de fogo. Isso não quer dizer que a história se passe apenas na periferia - o mundo da mídia e a classe média também são retratados. "Há quem possa estranhar a gente fazer humor com esse tema", diz Johana. Pois a ausência de paternalismos e o humor estão entre as qualidades de Miserê Bandalha. Miserê Bandalha. 85 min. 14 anos. Teatro João Caetano (438 lug.). R. Borges Lagoa, 650, V. Clementino, 5573-3774, metrô Santa Cruz. 6.ª e sáb., 21h; dom., 20h30. R$ 10. Até 30/4. Estréia neste Sábado.

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