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Bem-vindos àcasa de bonecas

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Por Redação
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Já faz tempo, e tenho até pudor de comentar, que as estrelas das novelas chegam cada vez mais reluzentes à minha TV. Há cada vez menos poros nos rostos - já reparou? -, e até as mais jovens abusam de todo o arsenal disponível de maquiagem, talvez não na intenção de ficar, mas ficando, com aspecto que beira o plástico. Tem a ver, claro, com o mundo em alta definição, que deixa ver mais do que se veria no próprio tête-à-tête.Cássia Kiss, que evidencia até as rugas que ainda não tem na composição da Dulce de Morde & Assopra, me disse que chega a se incomodar com as cenas em que as moças despertam na cama já maquiadas. Mas a coisa vai além, e soa exagerada mesmo para quem acredita que a representação que a televisão faz da realidade, em especial a telenovela, não precisa ser assim nua e crua. Não sei se alguém acha normal a elegância nada discreta com que as moças vão ao trabalho e à escola nas novelas - eu não acho. Ganha-se na plasticidade, mas perde-se aquilo que faz o público acreditar que os personagens são de carne e osso. Imagine que transtorno ir trabalhar logo cedo com o figurino da Carol (Camila Pitanga), de Insensato Coração, ou desfilar nas primeiras horas da manhã já tão esvoaçante quanto a Tereza Cristina (Christiane Torloni) de Fina Estampa? Minha tia Irene diria "é para quem pode". Sim, e nesse grupo, só entram mesmo as personagens de novela...Não é recomendável tentar aderir à plastificação dos rostos que se percebe na televisão, mas é inegável que ela perturba a relação que estabelecemos entre beleza e perfeição. Frente à bela Glória Pires de 1993, que reaparece à tarde na reprise de Mulheres de Areia, por exemplo, Nara, minha filha de 11 anos, se atém não ao cabelo lustroso, mas à sobrancelha nada delineada da atriz. "É que ela é uma caiçara, vive na beira da praia", tento justificar. E ela: "Eita, ainda bem que hoje em dia tem pinça até na beira da praia."

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