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Bem antes da folia, as boas novas dos palcos

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Em ano de carnaval só em março, a máxima de que tudo só começa depois da folia deixa de valer. Nos teatros cariocas, como de costume, 2011 já começa com uma temporada quentíssima, com mais de 20 estreias entre esta semana e a próxima, entre adaptações de textos dos séculos 19 e 20 e inéditos, do 21.Um traço comum - próprio do tempo em que vivemos, quiçá de todos os tempos: a dificuldade do ser humano de lidar com a própria felicidade. É o que subjaz de Um Coração Fraco, texto de Dostoievski datado de 1848 adaptado por Domingos Oliveira há 25 anos, para a mulher, a atriz Priscilla Rozenbaum, estrear na direção."Ele me deu de presente no Natal de 85, com um bilhete, mas faltou coragem. E sempre achei que era mais divertido ser atriz", conta Priscilla, grande apreciadora de Dostoievski que já participou de duas encenações do clássico russo, entre assistências de direção (já fez mais de 30, a maior parte com Domingos)."É um espetáculo sobre amizade e amor, mas principalmente sobre a incapacidade de ser feliz. Sabe aquelas pessoas que acham que não têm merecimento, que têm medo? É o Vassia." Quem vive Vassia, jovem que divide sua angústia com a paixão por Lisanka (Isabel Guerón) com o amigo Arkaddi (Cadu Fávero), é Caio Blat. "Ele pira por ser feliz", diz Priscilla, que debuta hoje, no Teatro Sérgio Porto.Do escritor Campos de Carvalho é A Lua Vem da Ásia, que também marca uma primeira vez: a de Chico Diaz sozinho no palco. Foi o ator quem adequou a história do louco/preso/andarilho sem nome para o teatro (esta é também sua primeira adaptação). O diretor Aderbal Freire-Filho o apresentou à obra do autor mineiro (de O Púcaro Búlgaro), há quatro anos - agora, ele presta supervisão ao diretor convidado por Chico, Moacir Chaves."Logo que li, pensei: nossa, foi escrito em 1956 e é tão pertinente! Eu já estava mesmo atrás de um texto que fosse argumento do meu próprio argumento, já que não escrevo", contou Chico na terça, na véspera da estreia para convidados, no teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. "Essa sensação de estar sozinho no palco, esse desamparo, tem a ver com o personagem. O nosso lado negro tem o seu valor."Tendo como suporte poucos objetos e projeções numa tela, Chico vive um homem que se autodefine como "um oásis cercado por todos os lados", e que narra uma trajetória fantástica, faz elucubrações sobre a vida e a morte, primeiro confinado num "hotel mal-assombrado", uma espécie de sanatório ou campo de concentração, e depois, livre de seu cubículo. Ele não crê em Deus, nem crê que Deus creia nele. Emociona-se, e emociona.Diversidade. A temporada é marcada pela diversidade. A partir do dia 13, no Espaço Sesc, em Copacabana, tem R & J de Shakespeare - Juventude Interrompida, versão brasileira de um espetáculo off-Broadway baseado em Romeu e Julieta, dirigida por João Fonseca. No mesmo dia, entra em cartaz no Teatro Cândido Mendes Solidão a Comédia, de Vicente Pereira e direção de Claudio Tovar. Referência do besteirol, o monólogo, de 1990, é levado por Maurício Machado. Dia 17, terminada Passione, Leandra Leal e elenco ocupam o Sérgio Porto com ObsCena. Dia 18, no Teatro dos Quatro, chega a vez de Subersões 21, com Aloísio de Abreu, Luis Salem e Márcia Cabrita cantando novas versões de sucessos - a peça está fazendo 21 anos, daí seu título. Entre as reestreias, os destaques são os musicais Sassaricando e É Com Esse Que Eu Vou, ambos de Rosa Maria Araujo e Sérgio Cabral e dirigidos por Cláudio Botelho e Charles Möeller, em teatros vizinhos na Praça Tiradentes. E a Sutil Companhia de Teatro, que revê seu repertório no Espaço Tom Jobim.ESTILHAÇOSEspaço I do Museu do Universo. Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100, Gávea. 5ª a sáb., 21 h; dom., 20 h. R$ 80. Até 20/3.A LUA VEM DA ÁSIACCBB. Rua Primeiro de Março, 66, 4ª a dom., 19h30. R$ 10. Até 27/2.UM CORAÇÃO FRACOTeatro Sérgio Porto. Rua Humaitá 163, Humaitá. 6ª e dom., 20 h; sáb., 21 h e 23 h. R$ 30. Até 30/1.

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