Belo Horizonte e seu teatro

Talvez nenhuma outra cidade brasileira - com exceção das capitais Rio e São Paulo - tenha tantos grupos teatrais atuantes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para conhecer algumas das principais qualidades do FIT, talvez seja preciso entender a peculiaridade do panorama teatral de Belo Horizonte. Talvez nenhuma outra cidade brasileira - com exceção das capitais Rio e São Paulo - tenha tantos grupos teatrais atuantes. Grupos estruturados e não elencos que se reúnem em torno de um diretor para um único espetáculo. E, certamente, nenhuma outra tem tantos e tão sofisticados grupos de teatro de rua. O Grupo Galpão, o mais conhecido deles, premiado internacionalmente, tem 17 anos de existência e conseguiu a proeza de arrancar elogios da crítica londrina por sua montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Atuando com teatro de bonecos, o Grupo Giramundo, também reconhecido internacionalmente, foi premiado na categoria criação na edição do Prêmio Multicultural Estadão Cultura 1998. Há dois anos, o grupo mineiro Reviu a Volta, supreendeu no Porto Alegre in Cena, o festival internacional de teatro da capital gaúcha, com uma inusitada e deslumbrante versão circense, apresentada na rua, da peça O Beijo no Asfalto, de Nélson Rodrigues. E há muitas outras, organizadas em duas cooperativas diferentes. Num país onde grupos se formam e se desmancham com a mesma facilidade, chamam atenção a longevidade e qualidade artística dos grupos mineiros. Em 1977, Rocha era um dos jovens fundadores da Cia. Som e Drama - ainda hoje atuante - na qual realizou sua primeira direção profissional. "Foi em 1981, com a peça O Processo, de Kafka, que teve um impacto muito grande na cidade", lembra. O fenômeno é raro e a criação e o sucesso do FIT são frutos da atuação desses grupos pelas ruas da cidade. Afinal, mesmo quando um grupo consegue se estruturar fora do eixo São Paulo/Rio, o mais comum é a sua transferência para as chamadas "capitais culturais", a exemplo do que ocorreu com o Armazém, de Londrina, atualmente sediado no Rio, ou o Cemitério de Automóveis, também de Londrina, hoje atuando em São Paulo. "Difícil encontrar uma única e definitiva explicação para o fenômeno", diz Rocha. Talvez a precariedade de recursos - não havia apoio oficial para os artistas de teatro e nem locais onde pudessem se apresentar - tenha estimulado a união em grupos e também a saída para as ruas." Ocorre que a mesma precariedade existe em outras cidades, com resultados opostos. Rocha arrisca ainda a hipótese da influência do grupo Galpão, se não na criação, na permanência dessas companhias. "O teatro de rua era visto com muito preconceito, como uma arte menor. O Galpão foi o primeiro a alcançar um grande sucesso e, com isso, estimulou a todos com a valorização dessa linguagem teatral. Com seu êxito, o Galpão contribuiu para fortificar uma tendência que já existia na cidade." Pioneiros - Foram seus integrantes os responsáveis pelo primeiro festival de teatro de rua de Belo Horizonte, em 1992. Então diretor do Teatro Francisco Nunes, Rocha percebeu a importância da realização desse gênero de evento e propôs, no ano seguinte, a criação de um festival internacional de teatro, em projeto enviado à prefeitura. "A administração municipal convocou a mim e ao Galpão para a criação de um festival único, de palco e rua." Nascia assim o FIT, cuja primeira edição, em 1994, foi organizada em conjunto por Carlos Rocha, Chico Pelúcio e Eid Ribeiro, os dois últimos ligados ao Galpão. Na edição seguinte, em 1996, Chico Pelúcio abandonou a organização e, com ele, o Galpão, que nunca mais participou da programação do festival. "Atualmente, voltamos a nos aproximar, uma vez que nossas divergências foram meramente administrativas e não artísticas. E nem poderia ser diferente. O festival não se afastou em nada da filosofia, do formato e dos critérios decididos em parceria com o Galpão."

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