Belenzinho retoma vocação teatral

Fechado desde 2006, Sesc reabre com três salas dedicadas às artes cênicas

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Por Maria Eugenia de Menezes
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Nos cinemas, o formato já se popularizou. Especialmente nos shoppings, tornou-se comum, quase banal, ver muitas salas reunidas em único espaço. Agora chegou a vez do teatro. Com a inauguração da nova unidade do Sesc Belenzinho, marcada para o dia 4, as artes cênicas também ganham o seu multiplex. Serão três salas de espetáculo: uma com palco italiano e poltronas fixas, assemelhada aos teatros convencionais, e outras duas áreas para atender às novas necessidades do teatro alternativo. Na prática, são grandes caixas pretas, sem mobiliário, que podem ganhar diferentes formatos. Mas o que chama atenção é o fato de, pela primeira vez, vertentes alternativas ditarem a própria construção dos espaços do Sesc e não apenas conformarem-se com áreas já existentes e adaptadas. Apesar da aparente simplicidade, ambas as salas ganharam estrutura completa de luz, som e camarins. "Na prática, é o que já fazíamos em outras unidades. Mas aqui não estamos reaproveitando uma área, usando um galpão desocupado. Estamos criando possibilidades de dar mais suporte para o teatro não-convencional", comenta Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP. "E fazendo um esforço para dar conta da diversidade da produção cênica da cidade." Se todas as três salas estiverem funcionando ao mesmo tempo, o o local poderá acolher um público de cerca de mil pessoas. No andar do multiplex teatral também haverá um café e uma ampla varanda, com vista panorâmica para a cidade. Mas o projeto que consumiu quase cinco anos de obras e mais de R$ 150 milhões não se esgota aí.Gigante. Instalado em um terreno de 32 mil m² e com mais de 50 mil m² de área construída, o Belenzinho é a maior unidade da capital paulista. Em uma torre de quatro andares, única construção remanescente da antiga unidade provisória a ser reaproveitada, estão concentradas as salas de espetáculo, a área de exposições, biblioteca e espaços para oficinas. Ao redor, foram instalados um ginásio esportivo e um parque aquático com capacidade para 2 mil pessoas e seis piscinas.A ladear o edifício há ainda um imenso galpão dividido em duas partes: a primeira abriga a comedoria (denominação que o Sesc dá ao seu restaurante). Já a segunda recebeu a alcunha de " multiuso", já que não tem uma destinação definida. "É um espaço mais rústico, que foi projetado para receber exposições, mostras ou grandes intervenções", diz o arquiteto responsável pelo projeto, Ricardo Chahin. O uso múltiplo dos espaços, por sinal, parece ser uma das constantes do projeto arquitetônico. E em quase todos os lugares será possível abrigar performances de teatro, circo ou dança. O que sublinha ainda mais a vocação cênica do espaço. É o caso do vão central do edifício, com chão recoberto de vidro, que deixa entrever a piscina no andar debaixo. "Fazer um grande átrio no meio do prédio era uma maneira de iluminar os andares, mas também um jeito de transformar o coração da torre em um imenso palco", comenta Chahin. Com ares de espaço cenográfico, a área foi equipada com varas cênicas e passarelas técnicas suspensas para a circulação dos artistas. Para além de sua programação, porém, um dos grandes trunfos da nova unidade talvez esteja na fartura de áreas de convivência. Logo na entrada da unidade, o visitante irá se deparar com "uma clareira", nas palavras do arquiteto. Trata-se de um imenso espaço ao ar livre que deve fazer as vezes de praça pública do bairro, com árvores de grande porte, bancos e obras de arte projetadas por Ana Maria Tavares e Guto Lacaz. "Não me preocupei em fazer um prédio que tivesse um aspecto de obra-prima, mas que se relacionasse bem com o espaço urbano", complementa o arquiteto. Para Danilo Miranda, "as pessoas precisam se encontrar de maneira desinteressada e isso é cada vez mais raro. Pensamos em um local que evoque as praças das cidades do interior". O Sesc acalenta os planos de reforma para o Sesc Belenzinho desde 1996, quando adquiriu a antiga fábrica do Moinho Santista. Ainda antes de lá instalar a unidade provisória, em 1998, promoveu um concurso entre arquitetos para escolher a proposta que melhor se ajustasse aos seus propósitos: combinar a oferta de programação cultural com lazer, atividades esportivas e serviços, como as clínicas odontológicas. Na ocasião, nomes de relevo, como Paulo Mendes da Rocha, participaram da disputa. Mas foi o projeto de Chahin, que conservava parte das antigas instalações e limava outras, o escolhido. Quem conheceu o antigo Belenzinho não vai encontrar vestígios dos galpões industriais que se tornaram marca registrada do local. Os espaços que se notabilizaram por abrigar montagens relevantes foram postos abaixo para ceder lugar às novas construções. Uma decisão que à época provocou protestos entre os artistas. Até 2006, o Belenzinho era destino certo daqueles que acorriam em busca de uma agenda cênica de qualidade e se tornou um centro de experimentação. Seu fechamento deixou uma série de órfãos na classe teatral. Gente que encontrou abrigo provisório na unidade da Avenida Paulista, e agora deve retornar, em grande estilo, à zona leste. PRINCIPAIS ESPAÇOS TeatroA sala, com palco italiano e poltronas fixas, pode abrigar cerca de 400 espectadores. Possui fosso para orquestra e foi projetada com consultoria de J.C. Serroni. Parque aquáticoO complexo reúne seis piscinas, Há uma unidade semiolímpica, duas infantis, uma recreativa para adultos e duas para a prática de biribol. Átrio O vão central do edifício foi equipado com estrutura para abrigar performances de circo e teatro. Seu piso de vidro consegue suportar até 2 toneladas. Salas de espetáculosSão duas salas com área livre e sem assentos fixos. Permitem montagens de diversas linguagens em diferentes formatos.AGENDA DE ABERTURAPato Fu - Show, dia 4, 12 h. Yamandu Costa - Show, dia 5, 17h30. Aldeotas - Peça com Gero Camilo e Caco Ciocler, dia 4, 15h30.Mary Stuart - Peça com Denise Stoklos, dia 4, às 16 h. Adoniran - Espetáculo com Ballet Stagium, dia 5, 10 h.

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