Barber, entre o sensível e o diabólico

Encerramento da temporada paulista da OSB contou com o violino afiado de Rachel Barton Pine

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Por Crítica: João Marcos Coelho
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Às vezes, topamos com overdoses inesperadas de certas obras por causa de efemérides. Pois o público paulistano assistiu a duas performances do concerto para violino do norte-americano Samuel Barber, pela passagem de seu centenário de nascimento. Outra coincidência: o lançamento do CD da Osesp em que John Neschling comanda estupenda leitura da obra.A mais recente execução foi no domingo, na Sala São Paulo, no encerramento da temporada paulista da Orquestra Sinfônica Brasileira. A violinista norte-americana Rachel Barton Pine tem uma musicalidade tão afiada quanto a de Augustin Hadelich, que solou a obra com a Osesp em março. Mas levou vantagem por causa do seu raro Guarnerius del Gesù de 1742. Foi sensível no belo Andante central e diabolicamente virtuose no Presto in moto perpetuo final. Almeida Prado. A perda recente do compositor Almeida Prado foi objeto de tributo. Emocionado, Roberto Minczuk regeu suas Variações Sinfônicas Sobre um Tema Original, dedicadas ao titular da OSB três anos atrás, quando ele dirigia o Festival de Campos do Jordão e Almeida Prado foi o compositor residente. Entre as tantas lições que esse criador musical deixou, uma é fundamental: não é preciso fazer música hermética para soar contemporâneo. Essas variações são ao mesmo tempo música de seduzir ouvidos e complexas nos passeios pelos naipes da orquestra. Orquestra e regente uniram-se numa interpretação competente. Duas qualidades que sobressaíram nas duas obras sinfônicas complementares do concerto. Das oito partes da Turandot Suite, de Ferruccio Busoni, foram executadas as duas primeiras e as duas últimas. Destaque para as marchas (a grotesca e a quase funeral seguida do finalle alla turca).A boa forma da OSB ficou ainda mais evidente no poema sinfônico Pinheiros de Roma, de Ottorino Respighi. Boa parte de sua maestria deve ser creditada aos anos em que estudou com o guru da orquestração, o russo Rimski-Korsakov, em São Petersburgo. Acrescentem-se pitadas de grandiloquência wagneriana e uma veia melódica generosa e chegamos a obras que seduzem o público já na primeira audição. A regência eletrizante de Minczuk complementou o charme de uma obra sinfônica que com justiça deu prestígio a Respighi.

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