Banksy paga fiança e libera grafiteiros russos da cadeia

Eles foram presos por vandalizar carros da polícia. A fiança, de 600 mil rublos (R$ 35 mil), foi paga por Banksy

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Por Lucy Ash
Atualização:

O coletivo russo Voina (Guerra) ganhou fama há alguns meses quando fotos de um de seus grafites rodaram pela internet. Em uma ponte elevadiça, eles pixaram um enorme pênis. Quando a ponte abria para a passagem de barcos, o desenho aparecia na exata direção da sede do Serviço Federal de Segurança, ex-KGB.

 

Nesta semana, Leonid Nikolayev e Oleg Vorotnikov, membros do coletivo, foram soltos da prisão após quase quatro meses aguardando julgamento.

 

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Eles foram presos por vandalizar carros da polícia. A fiança, de 600 mil rublos (R$ 35 mil),  foi paga por Banksy, o artista inglês que ninguém sabe direito quem é.

 

Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, eles contaram como foi o episódio. Eles caminhavam para casa, com a mulher de Oleg, Natalia Sokol e Casper, filho do casal que tem dois anos. O grupo notou que estava sendo seguidos. Natalia começou a fotografar os homens que os seguiam, que tentaram, então, agarrar a câmera dela. Na briga, ela foi jogada no chão e arrastada pelos cabelos de maneira tão violenta que uma de suas tranças foi arrancada. "Eles disseram que eram do departamento de investigação criminal", disse Natalia, por e-mail.

 

"Mas se eles realmente forem investigadores da polícia, eles agiram de forma muito estranha".

Até o bebê apanhou: foi empurrado com força e bateu contra a parede.

 

Um porta-voz da polícia de São Petersburgo, onde o episódio aconteceu, afirmou à agência de notícias russa Ria Novosti que "investigações preliminares" estão em curso.

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Eu encontrei os artistas em Moscou antes deste episódio. E perguntei a Leonid se ele não tinha medo de ser atacado ou preso. "Nossa sociedade viveu com medo por muitas décadas, nós estamos tentando despertá-la chutando-a", respondeu. Duas semanas depois da nossa conversa, porém, era a polícia que estava chutando. E chutando ele.

Percevejos e fascistas

 

Da prisão, Oleg escrevia cartas para Natalia, que as postava no site do grupo. Foi então que Banksy ficou sabendo da história e se ofereceu para pagar a finaça. A corte russa recusou o pedido. Eu encontrei Natalia com seu filho em Moscou no fim de janeiro. Ela me disse que estava muito agradecida pelo apoio de Banksy. Para o Voina, ela diz, o artista britânico é uma fonte de inspiração e é admirado por "sua mística e seu senso de humor imprevisível".

 

Na semana passada, o advogado de Leonid, Pavel Chikov, foi à corte europeia de Direitos Humanos em Estrasburgo, prestar queixa afirmando que as autoridades russas nunca apresentaram evidências suficientes para prender os artistas ou para mantê-los em custódia indefiinidamente antes de um julgamento ser marcado. No dia seguinte,

24 de fevereiro, a corte russa finalmente aceitou que Banksy pagasse a fiança. Oleg e Leonid saíram da prisão, mas a acusação deles segue. Há chances de que eles sejam novamente presos.

 

Ironicamente, o pixo na ponte foi indicado para um prêmio estatal de arte contemporânea - uma semana depois, porém, foi misteriosamente 'desindicado'.  A resposta de Loenid é brusca: "Eles podem fazer que o quiserem com o pênis, nós não temos copyright". Natalia adiciona: "o Voina nunca quis e nunca vai participar de nenhum prêmio, nossa arte toca as pessoas e não há como atribuir um preço a isso"

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