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Balé Guaíra traz de volta o "Circo Místico"

Com cenários e figurinos novos e arranjos instrumentais inéditos de Edu Lobo, o espetáculo será reapresentado em junho pela companhia de dança

Por Agencia Estado
Atualização:

Respeitável público, um minuto de atenção: o Grande Circo Místico volta aos palcos. Depois de 20 anos, os artistas do Balé do Teatro Guaíra reapresentam a coreografia criada por Luis Arrieta e Dani Lima, ao som da conhecida trilha de Edu Lobo e Chico Buarque. O espetáculo ganha literalmente roupa nova: figurinos e cenários estão a cargo da carnavalesca Rosa Magalhães. A trupe estréia turnê nacional no mês que vem em Curitiba (de 13 a 16) e depois parte para São Paulo (de 21 a 23). Edu Lobo criou arranjos instrumentais para a atual versão. "Edu deu liga à trilha do espetáculo. Antes, as canções apareciam como em um disco, agora ele consolidou a leitura da obra", diz a diretora do balé, Suzana Braga. O compositor explica: "Quando estávamos criando, nos anos 80, para cada tema tratado havia uma versão instrumental. As 12 músicas eram desconhecidas do público, a idéia era reforçar essas melodias. Revendo todo o trabalho, principalmente os instrumentais, resolvi fazer algumas substituições." Foram poucas as alterações. As canções da gravação original serão mantidas, com algumas trocas de intérpretes: A Bela e a Fera ganha versão do ator Marco Nanini (antes Tim Maia) e História de Lili Brown será ouvida na voz de Vanessa Gerbelli (antes Gal Costa). "Vendo o ensaio, tive vontade de modificar algumas coisas." "O disco não foi campeão de vendas, até mesmo demorou a pegar", fala Edu Lobo. "Melodias como Beatriz ficaram conhecidas ninguém sabe como; não eram canções de rádio." Ele conta que certa vez estava em uma festa, quando um profissional de rádio desculpou-se por não tocar a trilha do Circo. "Perguntei por que, ele me respondeu que não havia refrão. Na verdade não tem, até então nunca tinha me dado conta disso. Hoje são canções conhecidas, não diria popularmente, mas por aqueles que acompanham MPB." Se as canções são as mesmas, a coreografia segue o caminho inverso: foi criado um novo trabalho cênico assinado pelo argentino, radicado no Brasil há mais de 30 anos, Luis Arrieta. A montagem deixou a linguagem acadêmica e voltou-se para um trabalho mais moderno. Para Suzana, ele se transformou em um "diretorzão" que soube traduzir música e poesia para a dança. "Arrieta faz a ponte entre a linguagem clássica e moderna. Coube a ele segurar o ritmo de um balé narrativo de 100 minutos. Não daria para realizar algo rasgadamente moderno, uma vez que a música não permitiria." Edu Lobo compara a primeira versão com a atual: "No que diz respeito à parte coreográfica, é outro espetáculo. Arrieta cria em cima da pulsação da música, o que sempre é positivo quando há combinação entre acentuação rítmica e movimentos." Dani Lima, uma das fundadoras da Intrépida Trupe, assinou as coreografias aéreas e o roteiro circense. "As idéias principais vieram do Arrieta, lidei com a parte de acrobacias, mas não abri mão de colocar Beatriz no alto", brinca. Ela deu um ar jovial e arrojado ao Circo, que mantém o imaginário e arquétipos circenses de outros tempos. A inspiração para o musical veio de longe, de Viena, da paixão de uma acrobata por um estudante de medicina. O amor de Frédéric Knie deu início a uma dinastia circense, que fincou raízes em 1806 quando Knie e seus filhos criaram o Circo Knie. Em 1919, seus descendentes fundaram o Circo Nacional Suíço. Hoje a trupe está na sexta geração. Com sensibilidade, o poeta alagoano Jorge de Lima traduziu essa saga para o poema O Grande Circo Místico, que narra parte da trajetória dos Knies. Nessa obra há uma certa Lily Braun, vedete que tinha um santo tatuado no ventre. Sua filha, a domadora Margarete, quer mudar de vida, quis ir para o convento, mas foi obrigada a seguir no circo. Em protesto, tatuou no corpo a via-sacra. Foi estuprada e teve duas meninas, almas puras que levitavam. É onde entram o misticismo e o fantástico. Sob o impacto dessa narrativa, o dramaturgo Naum Alves de Souza elaborou um roteiro, em 1982, seguido fielmente por Arrieta e Mario Zanatta. "O Grande Circo Místico é um trabalho de que eu gosto muito. Surgiu das idéias de Naum, que roteirizou todo o poema, deu partida ao processo, dirigiu o trabalho musical", lembra Edu Lobo. O projeto, da Arte Com Trato, governo do Paraná e Fundação Teatro Guaíra, com apoio da Dell´Arte Produções, está orçado em R$ 1,2 milhão, com patrocínio da Embratel e Copel.

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