Balé de Paris anuncia turnê no Brasil

A mais antiga companhia de dança do mundo, fundada em 1661, vai apresentar pela primeira vez fora da França Jewels, além do clássico romântico Giselle

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Por Agencia Estado
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O balé da Ópera de Paris é a mais antiga companhia de dança do mundo, fundada em 1661 pelo rei Luís XIV e, desde 1713, a Ópera possui orçamento anual impensável para muitos grupos e artistas brasileiros: cerca de 150 milhões de euros. Os brasileiros poderão conferir o peso da tradição desse grupo entre os dias 15 e 19 no Municipal do Rio, e em São Paulo, do dia 22 a 26, quando os 154 bailarinos mais a equipe técnica montarão o clássico romântico Giselle, de Jean Coralli e Julles Perrot, e ainda Jewels, de George Balanchine. Ainda haverá apresentação especial em Brasília nos dias de 30 de junho e 1.º de julho. A primeira vez que o balé de Paris esteve no Brasil foi em 1974, a convite de Márcia Kubitschek. A temporada ficou na lembrança do atual diretor-geral da Ópera Nacional de Paris, Hugues R. Gall. "Já nos apresentamos outras vezes no Brasil (1991 e 1994), mas acredito que a temporada atual seja a mais importante porque o público poderá conferir diferentes faces do trabalho do grupo. A primeira, um balé clássico e, de certa forma, um pouco da história da dança. E ainda Balanchine, que por pouco não assumiu a direção artística do balé após a morte de Diaghilev. Acima de tudo a coreografia Jewels será exibida pela primeira vez fora da França." De acordo com Gall, tanto o balé quanto a ópera realizam por ano cerca de 360 apresentações para cerca de 900 mil espectadores. Por essa razão, o grupo realiza uma turnê por temporada. Outro aspecto que mata de inveja qualquer brasileiro ligado à cultura está no fato de as relações de mudanças políticas não interferirem no andamento da ópera. A instituição possui estatuto próprio com conselhos e diretores ligados ao Ministério da Cultura. "Já tivemos governos de esquerda, de direita e nenhum deles interferiu diretamente no nosso trabalho. Também creio que não funcionaria se a cada mudança eleitoral as regras fossem alteradas. Após a aprovação do orçamento, temos autonomia para executar nosso trabalho, algo que fazemos com excelência, levando arte de qualidade ao povo francês durante todo o ano." Novos talentos - Com intuito claro de manter a tradição, todos os anos cerca de 20 crianças, selecionadas entre um grupo de 400 pretendentes, ingressam na escola. Assim como o Kirov e o Bolshoi, o balé da Ópera de Paris ensina aos seus futuros bailarinos o significado das palavras hierarquia, técnica e rigor. Meninos e meninas passam por um longo treinamento até a formatura. Como o corpo de baile da cia. possui artistas de idades variadas, a cada ano são abertas oito vagas para preencher o espaço dos que se aposentam. No mês de julho os meninos passam pelo primeiro teste - realizado só para os alunos da escola. Para os que não conseguirem, ainda há a chance da segunda disputa aberta a bailarinos de todo o mundo. Para os diretores, o resultado é positivo: os melhores sempre ficam na cia., o que garante alta qualidade ao grupo. O sonho desses garotos que ingressam no balé aos 18 anos é alcançar o status de etoile, estrela. O momento de consagração é esse, quando o artista deixa de ser apenas um integrante do corpo de baile, ou primeiro-bailarino, para conquistar os principais papéis e todo o destaque nos espetáculos. "Em uma cia., os bailarinos crescem juntos e, em certo momento, alguns conseguem se sobressair ao interpretar qualquer papel. Ter carisma junto ao público, embora o mais importante seja a consciência de que estão representando internacionalmente a dança francesa - são embaixadores do balé", explica a diretora artística Brigitte Lefévre. O público brasileiro poderá conferir o talento dos jovens embaixadores, além da técnica excepcional do balé da Ópera de Paris, por meio de Giselle. "Essa é uma das coreografias mais conhecidas do mundo, realizamos intenso trabalho de pesquisa para ficarmos próximos da versão original", diz Brigitte. O clássico romântico trata do amor impossível entre uma jovem camponesa e um nobre. Com base na mitologia germânica, a história se desenrola por meio da paixão, traição, loucura e morte. O segundo ato penetra no fantástico: a moça chega ao Reino das Willies - local para onde seguem os espíritos das noivas que morreram antes do casamento. Essas Willies se unem contra os noivos, levando-os à morte. Porém, Giselle se compadece e defende o seu amado. Mas o destaque da programação está em Jewels. A peça foi criada por Balanchine com a intenção de homenagear três escolas de balé. A francesa é representada pela peça Esmeralda, inspirada na música de Gabriel Fauré. Rubis evoca a cultura broadway americana, com música do amigo Stravinsky. Por fim, Diamantes traz os maneirismos e a sofisticação dos russos ao som da Sinfonia n.º 3 de Tchaikovski. "Pode não parecer, mas o fato é que não existe uma única dança sob o rótulo de clássico, cada cia. desenvolve seu ensino e linguagem", observa a diretora. Para Brigitte, Jewels exprime a importância dos balés, assim como ressalta a maleabilidade técnica do grupo para se adaptar aos diferentes estilos e linguagem da dança. A peça conta com os figurinos originais desenhados por Christian Lacroix de 1967. Toda montagem foi acompanhada por integrantes do Trust Balanchine, uma equipe responsável pela fidelidade das remontagens aos trabalhos originais.

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