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Balé da Ópera de Paris apresenta "Giselle" em SP

A companhia francesa mostrará aos públicos paulista, carioca e portenho as coreografias Giselle, de Jean Coralli e Jules Perrot, e Jewels, de George Balanchine

Por Agencia Estado
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Apesar das profecias pessimistas para 2002, no que diz respeito ao cenário econômico, a produtora Dell´Arte anuncia uma jóia como parte de sua programação do ano que vem: o Balé da Ópera de Paris. Uma das mais tradicionais companhias do mundo mostrará ao público de São Paulo, do Rio e de Buenos Aires, a coreografia romântica Giselle, de Jean Coralli e Jules Perrot, e a abstrata Jewels, de George Balanchine. O Balé da Ópera de Paris é considerado o berço da dança clássica, desde sua origem, marcada pela instituição da Academia Real de Dança, na França, pelo Rei XIV, em 1661. Desde 1713, a Ópera é uma instituição estatal, que abrigou, no último século, nomes como Serge Lifar, Maurice Béjart, Roland Petit, William Forsythe e Rudolf Nureiev. Atualmente na direção está Brigitte Lfevre, que concedeu entrevista, durante sua breve estada em São Paulo na semana passada. "Dirigir uma companhia como o Balé da Ópera de Paris é um desafio: significa respeitar uma tradição com mais de 400 anos, sem permitir que a dança pare de evoluir. Assim como o Kirov ou Bolshoi, temos a força de uma escola que faz do balé a excelência", afirma a diretora. A proposta de Brigitte para o Balé é mantê-lo em um conjunto harmonioso que mantenha as atenções voltadas ao mesmo tempo para o passado, o presente e o futuro. "Compreendo a arte como uma transmissão de raízes e tradições e o balé, especificamente, como patrimônio cultural, mas acredito que é necessário estar atento àquilo que acontece e marca a atualidade, sem perder de vista as novas tendências." Daí fica fácil compreender o repertório da companhia, que conta com os clássicos do balé e, ao lado disso, coreografias criadas por Pina Bausch, Mats Ek, Édouard Lock e Angelin Preljocaj, entre outros. É um repertório montado por encontros artísticos, que desfilam diferentes estilos e concepções. "Não gosto de rótulos. Não me interessa compartimentar em dança contemporânea, dança moderna ou seja lá o que for. Proponho o diálogo", comenta. "Costumo convidar coreógrafos e não me importa o nome que se dê à dança que eles criam. Esses encontros, na minha concepção, são como combinações de cores, que se misturam e formam algo único, específico." "Também faço questão de chamar gente jovem para criar especialmente para a companhia, como Locke, que desenvolve uma pesquisa baseada nas sensações, com liberdade para compor movimentos e gestos", prossegue. Para a próxima temporada, Brigitte escolheu os seguintes coreógrafos: Blanca Lee, Laura Scozi e Kader Belasbi. Blanca é uma espanhola, dançarina de flamenco que recebeu forte influência de Marta Graham em sua carreira. "Ela fará uma versão de Sherazade, com passagens que serão executadas somente na ponta. Belasbi fará uma versão para o balé do livro O Morro dos Ventos Uivantes, com cenário criado especialmente por Peter Pabst, que atua com Pina Bausch. Para encerrar, Laura exibirá sua versão para os sete pecados capitais. Sugeri os temas, agora cabe a eles usarem a criatividade para solucionar a questão." A turnê - No programa que será apresentado nessa turnê, o público poderá conferir a tradição e a técnica do Balé da Ópera de Paris, com a apresentação completa de Giselle. "Essa coreografia será vivida por duas intérpretes diferentes, que revisitam o papel, dando à personagem principal personalidades diferentes. É importante para o público observar a individualidade de cada bailarina." Esse balé, criado no auge do romantismo, com base na mitologia germânica, trata de um amor impossível entre uma jovem camponesa e um nobre. A moça apaixonada é enganada e, ao descobrir a traição de seu amado, morre de desgosto. Seu espírito vai para o reino das willies - local reservado às noivas que morreram antes do casamento. Esses espíritos unem-se contra os noivos, obrigando-os a dançar até a morte. Uma noite, o jovem foi ao cemitério chorar a morte da camponesa quando as willies aparecem. Giselle defende seu amor e salva sua vida. Chegando ao século 20, Jewels, obra do gênio George Balanchine, desfila no palco três jóias: esmeralda, rubi e diamante. Cada uma representa uma escola da dança clássica internacional: a tradição francesa, em esmeralda; a americana, em rubi, e a russa, em diamante. "Jewels é um trabalho muito significativo. Primeiro, por ser de Balanchine, que quase dirigiu a companhia nos anos 40 substituído por Lifar. Segundo, por ser uma peça extremamente especial: não costumamos apresentá-la com freqüência e, aliás, será a primeira vez que a dançaremos fora da França", diz. O Balé apresentará a peça com os figurinos originais criados por Christian Lacroix em 1967. Rumos - Trazer o Balé da Ópera de Paris com esse repertório, de acordo com o diretor da Dell´Arte, Steffen Daulsberg, é remar contra a maré. "Esse é um momento delicado para o País, no entanto, assumimos um compromisso há quatro anos e agora vamos cumpri-lo", explica. "Estamos em busca de patrocínio, na fase de captação de recursos, mas é certeza que o Balé fará sua turnê pelo País. Temos 20 anos de história, essa não é a primeira vez que passamos por momentos de crise e também não será a última", declara. Sua produtora também concederá retorno institucional aos mantenedores do Balé na França. "As empresas interessadas em uma parceria terão o nome associado à programação, ingressos e ações de marketing de relacionamento com seus clientes." "O Balé da Ópera de Paris faz poucas turnês fora da França, é uma honra tê-los conosco, até porque esse será o ponto alto da temporada", avalia ele. Brigitte explica que a companhia possui 12 programas diferentes para 150 apresentações nos teatros que possui à disposição, o Palais Garnier e a Opera Bastille, o que dificulta a realização de temporadas fora da França. Mais atrações - Além do Balé da Ópera de Paris, que chegará com seus 154 bailarinos em junho, o ano que vem terá atrações da Dell´Arte para todos os gostos. "Navegamos entre diversos estilos, dos mais descontraídos, como Montalvo, aos clássicos, como O Quebra-Nozes", comenta Daulsberg. "Sabemos que há público para diversas concepções de dança, por essa razão o repertório abre espaço para a variedade de temas." A agenda será aberta em março com o Momix, um grupo que nasceu de uma ruptura com o Pilobolus. Fundado pelo criativo Moses Pendleton, a companhia explora força física, movimentos ousados e acrobáticos, tudo recheado com muito humor. Essa é a fórmula da coreografia Opus Cactus. Em parceria com o Teatro Municipal do Rio, haverá uma adaptação da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare, concebida pelo atual diretor do Bolshoi, Wladimir Vasiliev. "O espetáculo contará com uma orquestra no palco e projeções no desenrolar da coreografia", revela. Ainda em parceria, mas desta vez com o Teatro Alfa, o grupo Montalvo Hervieu vai animar a platéia no segundo semestre, com uma mistura de dança de rua, clássico, contemporâneo e projeções de vídeo. Para encerrar a programação e o ano, uma versão do Quebra-Nozes feita pela Academia Vaganova, da qual saem os integrantes do Kirov Balé.

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