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Balé da Cidade utiliza ritmos do tango e do mambo

A ideia do israelense Itzik Galili surgiu após uma viagem em que passou dias em Cuba

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Depois de homenagear a cultura italiana em sua criação mais recente, o Balé da Cidade volta-se agora para o legado da música popular latina. De sábado até quarta-feira, o grupo sobe ao palco do Teatro Municipal com um programa que combinará duas coreografias inéditas e uma remontagem.

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Sob encomenda para o balé, o israelense Itzik Galili concebeu Balcão do Amor - peça que teve como base a música do cubano Perez Prado. Já o argentino Luis Arrieta, radicado há décadas no Brasil, se volta às suas raízes e se apoia no tango de Astor Piazzolla para criar BandOneón.

A ideia de Galili surgiu após uma viagem, em que passou dias em Cuba e se deixou contaminar pela música da ilha. Mas as canções de mambo de Perez Prado, ele conta, já faziam parte do seu repertório havia muito. "É daquelas coisas que você conhece quando criança e não sabe que foram parte importante de sua formação. Essas canções fizeram muito sucesso em Israel, nos Estados Unidos e na Europa durante os anos 1960", diz ele.

Com 20 bailarinos em cena - dez homens e dez mulheres -, Galili deixou-se guiar pelo clima sugerido pelo mambo para desenhar a coreografia. "É uma obra cheia de alegria e energia", define o artista, que cria para importantes companhias internacionais, entre elas Batsheva, Nederlands Dans Theater, Stuttgart Ballet, Gulbenkian Ballet e Ballet du Grand Théater de Geneve.

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De acordo com o criador, Balcão do Amor destoa do que se poderia esperar de sua obra. Deixando-se contaminar não só pelo que viu em Cuba, mas também pelo fato de estar lidando com uma companhia de dança contemporânea brasileira. "Cada nova obra me modifica. As pessoas com quem trabalho me afetam. Não poderia ter produzido para uma cia. europeia que não tivesse esse suingue dos brasileiros", observa ele, que está no País para acompanhar a estreia.

Essa é a segunda vez que ele coreografa para o conjunto de dança paulistano, que foi fundado em 1968. Em 2009, estreou Frágil, um duo em que os bailarinos se valiam de gestos suaves e atravessados de sensualidade.

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Na atual empreitada, o artista deverá contar com trilha executada ao vivo. A música de Perez Prado ganhou novos arranjos e versão orquestral. Nessa peça, assim como nas outras duas que compõem o programa, o balé será acompanhado pela Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência do chileno Victor Hugo Toro.

Em BandOneón, o instrumento merece destaque absoluto. Reconhecido internacionalmente, o músico argentino Daniel Binelli será o solista do Concerto para Bandoneón, de Astor Piazzolla. "Fui contemporâneo da geração de Piazzolla, que modificou o tango que existia até então", observa Luis Arrieta. "É incrível a maneira como ele transformou uma manifestação tão regional em algo internacional."

Ainda que o tango entre como trilha, não será óbvia a presença dos movimentos dramáticos e apaixonados que costumamos associar a essa dança típica. "É claro que quando a gente ouve Piazzolla pensa na dança. Mas é mais do que isso. A sua música é, na verdade, a pura expressão de uma cidade", comenta o criador.

Os dez intérpretes masculinos que ocupam o palco nessa peça trazem apenas uma evocação do que seria esse tango dançado. Podem nos fazer relembrar, por exemplo, o tempo em que essa era uma dança permitida apenas para os homens. "Mas tudo isso estará muito mais no olhar de quem assiste do que no meu discurso sobre essa obra", afirma ele, rejeitando o excesso de explicações formais sobre seu processo criativo.

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"A dança que trago é a do tango que meus pais dançavam nas festas em casa. Uma coisa de família, uma memória velada. Muito diferente dessa manifestação espetacular, com piruetas, que é feita para os turistas", ressalta também.

Relação sensorial. Talvez nenhum outro criador tenha uma relação tão profícua com o Balé da Cidade quanto Luis Arrieta. Com mais de 40 anos de carreira, já concebeu ou remontou muitos títulos para o conjunto. Entre eles, os marcantes Magnificat (1986) e Umbral (2008).

Aos 62 anos, Arrieta continua não apenas coreografando, como ainda atua como dançarino. E, em todos esses trabalhos, insiste em buscar uma apreensão do público que seja mais sensorial do que cerebral.

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Rejeita a ideia de que a dança seja uma arte para "iniciados" e comenta que quem precisa de conhecimento técnico é o artista, não o público. "Já usamos o intelecto na maior parte do tempo. Ele não é necessário para a arte. A arte nos dá a possibilidade de exercitar outras formas de percepção", acredita.

Neste programa, o Balé da Cidade também retoma uma obra que já foi vista na temporada 2013. Unevem, criação do espanhol Cayetano Soto com música do americano David Lang, abre o espetáculo, e contará com solo do violoncelista brasileiro Raïff Dantas.

Conhecido por suas coreografias extremamente técnicas e complexas, Cayetano Soto já havia assinado, em 2008, Canela Fina, um espetáculo com o qual a companhia de São Paulo obteve grande sucesso.

BALÉ DA CIDADE

Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/nº, metrô Anhangabaú, 3397-0327. Dom., 18 h; sáb., 2ª a 4ª, 20 h. R$ 20/R$ 60.

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