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"Balaio Brasil" reúne peças de 13 Estados

Por Agencia Estado
Atualização:

O espetáculo Vau da Sarapalha, baseado em conto homônimo de Guimarães Rosa, é a prova - se ela ainda se faz necessária - de que trabalhos teatrais deslumbrantes podem surgir fora do eixo cultural Rio-São Paulo. Dirigido por Luís Carlos Vasconcelos com o Grupo Piolim, da Paraíba, há oito anos percorrendo cidades do Brasil e do exterior, sempre aplaudido por crítica e público, Sarapalha finaliza, esta semana, temporada no Centro Cultural São Paulo. Pode ser até que não exista um espetáculo tão deslumbrante como a criação do Grupo Piolim entre as 20 peças de 13 Estados brasileiros que integram a programação teatral do evento Balaio Brasil, promovido pelo Sesc São Paulo. Mas certamente se trata de uma oportunidade rara - num país da dimensão do Brasil - de conferir um pouco do que está sendo feito em locais distantes de São Paulo como Rondônia ou Distrito Federal. De terça até o dia 26, os espetáculos estarão revezando-se entre nove unidades do Sesc. Durante meses, curadores viajaram por vários Estados do Brasil para fazer contato com os grupos locais, assistir a espetáculos, ensaios ou ainda recolher vídeos de peças já fora de temporada. "Nessas viagens comprovamos que há muita gente produzindo em todo o Brasil", diz Egla Monteiro, coordenadora da programação teatral do Sesc Ipiranga e uma das curadoras do evento. Segundo ela, há grupos com ótimo nível de elaboração, de conhecimento teórico e formal. Grupos que, ao contrário do que muitas vezes se imagina, não estão esperando a chance de vir para a capital. "É o caso, só para citar um exemplo, da Associação de Teatro Radicais Livres, do Ceará, companhia dirigida por Ricardo Guilherme, um artista talentoso e professor universitário." A companhia cearense participa do Balaio com o espetáculo A Divina Comédia de Dante e Moacir, espécie de investigação da cosmogonia cearense. Um boa expectativa cerca montagens como Zaac e Zenoel, dirigida por Ione de Medeiros, com a companhia mineira Grupo Oficcina Multimédia, e Idiotas Que Falam Outra Língua, com a Companhia de Teatro da Bahia, dirigido por Fernando Guerreiro. Mas Egla ressalta que o nível de elaboração artística não foi o único critério a orientar a curadoria. A verdade, a garra e a vontade de dizer alguma coisa sobre o Brasil também motivaram as escolhas. "Entre um grupo com um desempenho correto, um espetáculo bem-acabado e um outro, talvez menos perfeito, mas no qual a vida pulse, minha escolha fica com o segundo", afirma Egla. "Claro que o equilíbrio entre as duas coisas seria perfeito, mas nem sempre ele ocorre, mesmo na produção teatral paulistana." Bizarrus, com a Cia. Sem... Nexo Com... Plexo, de Rondônia, tem tudo para ser um desses espetáculos que encantam principalmente pela garra e verdade dos atores. Dirigido por Marcelo Felice, com elenco integrado por atores/detentos do presídio Ênio Pinheiro, de Porto Velho, tem como tema drogas e violência. Segundo Egla, numa seleção como essa, além de pouco generoso, seria pouco inteligente ater-se a critérios estritamente técnicos. "Em Tocantins, por exemplo, fui assistir ao ensaio de um grupo e qual não foi minha surpresa ao deparar-me com o diretor Antônio Guedes", lembra Egla. Guedes é o diretor da premiada Cia. do Pequeno Gesto, com sede no Rio, e a companhia convidou-o para dirigir seu mais recente trabalho. "Prova de que esses atores estão preocupados com qualidade, com aperfeiçoamento profissional." A Cia. de Teatro de Tocantins Chama Viva apresenta no Balaio, a montagem infanto-juvenil Maurivaux, dirigida por Guedes. O Balaio oferece ao público o privilégio de poder conferir até onde a geografia, os costumes e as diferentes realidades sociais interferem na criação teatral dos artistas espalhados por um país com tanta diversidade cultural como o Brasil. "Foi um trabalho muito importante também para nosso crescimento pessoal e profissional. Rompemos com muitos preconceitos, enriquecemos nosso olhar", comenta Egla, que viajou pelos Estados do Maranhão, Pará, Amapá e Tocantins. Ao retornar, os curadores e técnicos das diversas unidades do Sesc reuniram-se para juntos selecionarem os trabalhos. "Todos opinaram sobre todas as áreas, não só a partir do que viram, mas também dos vídeos."

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