Babinski inaugura individual com pinturas e gravuras

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Por Agencia Estado
Atualização:

O momento não poderia ser mais oportuno. Em meio à abertura de exposições sobre o expressionismo alemão e brasileiro, Maciej Antoni Babinski inaugura uma grande e portentosa individual de pinturas e gravuras na galeria São Paulo. Ele diz que foi coincidência. Coincidência ou não, trata-se de mais uma chance para o público estabelecer relações entre as correntes artísticas européia e nacional, e ver um momento importante da gravura brasileira. O polonês Babinski - que daqui a 2 anos terá toda a obra revista por uma grande retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (Masp) - foi amigo de Oswaldo Goeldi e uma parte significativa de sua produção em papel está ligada a essa influência. "O que me apaixona em Goeldi são seus momentos de violenta movimentação dionisíaca e foi precisamente com essa característica que ele me influenciou". Essa contaminação pode ser vista principalmente no mezanino da galeria. É nesse espaço menor e mais intimista que o artista mostra preciosidades de sua trajetória. É o caso das pequenas aquarelas Montreal e Coteau du Lac, duas de suas primeiras pinturas, obras que antecederam a fase que o tornou mais conhecido, a das gravuras, e que estão quase escondidas em um canto do andar superior da São Paulo. Esse espaço expositivo, que utiliza a parede da rampa de acesso ao mezanino além do próprio mezanino, torna evidente um dos amores de Babinski - pelo pequeno (em oposição às grandes telas em cores, que o inserem no roldos grandes coloristas do País). As litografias produzidas entre o fim dos anos 60 e começo dos 70 guardam em seus formatos reduzidos um momento significativo da pesquisa visual daquela época. São paisagens imaginárias, oníricas, detalhadas em texturas lisérgicas, algumas delas nunca expostas em São Paulo, como o quadro Mãe e Filho (a relação entre homem e mulher e mãe e filho são algumas constantes em sua obra). Aos poucos, essa paisagem deixa os pequenos quadros incolores e ressurge em xilografias já coloridas, que sinalizam a explosão em cores que tomou conta da produção do artista nas últimas décadas e que está no andar de baixo da galeria São Paulo. "Hoje já nem consigo imaginar-me fazendo gravura", desabafa o artista. "Até porque nem me adaptaria aos novos materiais e instrumentos disponíveis". Toda a montagem chama a atenção para a multiplicidade e a liberdade com que o artista transita entre as linguagens e as formas de atuação. "A organização da exposição não segue nenhuma ordem cronológica ou qualquer outra regra; assim como dou títulos aos trabalhos por uma livre associação", observa Babinski. A irreverência é também interna aos trabalhos. Muitos dos quadros de Babinski são comentários bem-humorados sobre o cotidiano. É como se ele expusesse charges fantasiadas de pintura ou gravura. "Sempre me permiti ser anedótico" comenta. "É nesse sentido que não posso alinhar-me a dogmas, como é o expressionismo alemão", continua. Habitualmente chamado de paisagista, Babinski mostra principalmente figuras em suas telas mais recentes. Em cenas como o porão onde sua família se escondia durante os bombardeios da 2.ª Guerra Mundial ou um hospital imaginário, personagens ganham vida com pinceladas velozes. "A figura às vezes é um pretexto para construir-se uma paisagem, seja ela real, imaginária ou interior". Ou, como escreve Sheila Leirner no texto do catálogo: "(...) Hoje pode-se verificar uma espécie de síntese na obra do artista, onde homem e natureza fundem-se nas múltiplas narrativas". Mas em quadros mais antigos, Babinski também cria personagens que determinam sua obra, como em uma das aquarelas mais delicadas da exposição, que retrata a avó de Lídia, sua mulher, sentada em uma cadeira de balanço. Ou ainda em suas gravuras da década de 60, em que as pessoas se comportam como paisagens humanas saídas da imaginação do artista. Serviço - Maciej Babinski. De segunda a sexta, das 10 às 20h; sábado, até às 19h. Galeria São Paulo. Rua Estados Unidos, 1456, tel. (11) 3052-8855. Abertura nesta terça (10) às 21h.

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