Babel 'descobre' o Brasil

Grupo editorial português oficializa hoje, dia da poesia, sua chegada ao País

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Por Ubiratan Brasil
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O poeta e artista plástico Almada Negreiros (1893-1970) foi um notável pensador. Figura controversa, foi, para muitos (como José Saramago), o responsável pela segunda revolução modernista em Portugal, atacando em alto nível a cultura burguesa instituída e os seus representantes. "Hoje, é lembrado como homem extravagante, mas, para mim, sua importância é fundamental", comenta Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do maior banco privado de Portugal, o BCP, e agora presidente da Babel, grupo editorial que se instala oficialmente no Brasil hoje, dia da poesia.Será durante um evento no Museu da Língua Portuguesa, onde serão apresentados os primeiros lançamentos: reproduções fidelíssimas de Mensagem, único livro publicado em vida por Fernando Pessoa; Espumas Flutuantes, de Castro Alves; e Índice das Coisas Mais Notáveis, edição de luxo da obra retirada dos sermões do Padre Antônio Vieira, com capa serigrafada. "Não são meros fac-símiles, nossas edições trazem até a cor envelhecida das páginas dos originais", comenta Teixeira Pinto. "Na verdade, são versões clonadas."De fato, a edição de Mensagem, originalmente publicada em 1934, traz uma preciosidade: aquele que seria o título original, Portugal, está riscado a lápis e, abaixo, vê-se escrito a mão o escolhido por Pessoa (veja no quadro abaixo). Outra novidade será a edição, em Portugal, de uma obra com inéditos do poeta, selecionados do espólio de Pessoa que está na Biblioteca Nacional de Portugal (veja também no quadro abaixo). Já Espumas Flutuantes traz até uma sujeira que consta na contracapa original. Mais um trunfo: a reedição do primeiro catálogo do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, fundado em 1929.Em Portugal, a Babel é um conglomerado de nove editoras, capitaneado pela tradicional Guimarães, fundada em 1889 e salva da falência há dois anos, quando Teixeira Pinto adquiriu seu controle, consolidando sua chegada ao universo cultural. "No Brasil, no entanto, Babel será o nome da editora e com personalidade própria. Não queremos exportar o que já temos, mas publicar autores brasileiros para leitores brasileiros."Com um investimento inicial de R$ 6 milhões, a Babel será dirigida no Brasil por Rui Gomes Araújo e Nuno Barros. Para auxiliá-los, foi convidado o escritor Luiz Ruffato, que ocupará o cargo de curador editorial. "É uma função inédita e fiquei empolgado com a proposta ousada de publicar autores e não apenas títulos", contou ele, que prepara uma coleção de clássicos da literatura brasileira - seis títulos já estão definidos para este ano, como O Bom Crioulo, de Adolfo Caminha e A Falência, de Julia Lopes de Almeida.As decisões serão plurais, segundo Paulo Teixeira Pinto. Para isso, será montado um conselho editorial no qual terão voz ativa não apenas profissionais da literatura mas também da música, cinema e das artes visuais.Novas plataformas de leitura também estão previstas na Babel. Teixeira Pinto planeja, por exemplo, oferecer o conteúdo de seus livros através de quiosques instalados em livrarias. "O leitor consulta a obra em um e-reader que vai estar à disposição e, se interessado, pode baixar o livro em um pen drive."Abrir livrarias, como acontece em Portugal, ainda não está em seus planos, que podem mudar caso receba convites interessantes. Teixeira Pinto afirma que não pretende abrir lojas em shoppings ou galerias. "Prefiro espaços culturais, como museus, cinematecas", conta. "Assim, só pensarei a respeito se vir convite dessas instituições."Teixeira é meticuloso como deve ser um homem que presidiu um grande banco. Mas não enxerga a cultura por meio de números. Na verdade, ele é ambicioso e se ampara nas célebres palavras de Almada Negreiros, que constam, aliás, na última página de todos seus livros, como um mantra: "Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas."

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