Autran ri da hipocrisia familiar em "Dia das Mães"

Ele dirige a nova peça do americano Jeff Baron, com Adriane Galisteu e Karin Rodrigues, que estréia nesta quarta-feira em São Paulo, no Teatro Faap

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Por Agencia Estado
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A hipocrisia é uma característica da maioria das famílias de qualquer lugar do mundo e sua exposição, apesar das tentativas de evitá-la, normalmente explode quando todos se reúnem em uma data especial - como o Dia das Mães. Eis o fio condutor da nova peça do americano Jeff Baron, chamada justamente Dia das Mães, que estréia quarta-feira para convidados e sexta para o público, no Teatro da Faap. "Seu grande mérito, além de expor a hipocrisia, é o otimismo, acreditando na possibilidade do progresso interior do ser humano", comenta Paulo Autran, que dirige a peça. O ator recebeu o texto do próprio Baron, satisfeito com a montagem brasileira de Visitando o Senhor Green, sua peça anterior, ainda em cartaz com o próprio Autran e Cássio Scapin. "Ele me disse apenas que se tratava da história de uma família dominada por uma mulher velha", lembra Autran que, depois da leitura, empolgado, não apenas decidiu traduzir e comandar a direção como convidar a fiel amiga Karin Rodrigues para interpretar o papel principal. "Trata-se de um texto generoso, que oferece a cada ator momentos maravilhosos." Karin interpreta Estele, típica matriarca viúva que, no Dia das Mães, espera ansiosa, ao lado da irmã solteira Marilyn (Sônia Guedes), a chegada dos filhos Jonathan (Petrônio Gontijo) seu preferido, e Leslie (Adriane Galisteu). A situação começa a complicar quando Estele descobre que o neto não virá, pois viajou para a Espanha, país de nascimento de sua nora Carmen (Ilana Kaplan). E sua ira atinge o auge quando Leslie revela ter convidado para a comemoração a namorada Julia (Patrícia Gaspar), sem o seu consentimento. "O papel é maravilhoso, pois me permite exercitar um lado malévolo que é, ao mesmo tempo, engraçado", comenta Karin, segura na caracterização, que tem ainda o reforço de uma enorme peruca loura e figurino especialmente desenhado por Ocimar Versolato. "O que seria uma noite pacífica e agradável se transforma em uma verdadeira batalha verbal." É o momento em que as verdades afloram, modificando definitivamente as relações familiares. "O segundo ato tem, aparentemente, um gosto amargo, pois surgem situações que envolvem preconceitos, rancores e mágoas", observa Sônia Guedes. "Mas o humor alivia tudo e permite ao espectador deixar o teatro satisfeito." Sônia e Karin identificaram-se rapidamente com o método de direção de Paulo Autran, que dedica muitos dias à chamada leitura de mesa - período inicial, em que os atores lêem em voz alta suas falas, sem encenação, buscando descobrir os detalhes de cada personagem. "É o momento ideal para se descobrir o que se passa na cabeça do ator", comenta o diretor. Aos 78 anos, dono de um estilo único, com insinuações feitas de detalhes, pausas e pequenas mudanças de atitudes corporais, que permitem saltar de uma atuação cômica para uma trágica, Autran monopoliza a atenção dos demais atores. "Ao contrário da Sônia e da Karin, não estou acostumada com essa forma de preparação, pois normalmente já começamos no palco", comenta Ilana Kaplan. "Mas foi um momento decisivo, que permitiu estruturar o personagem." A mesma reação aconteceu com os outros atores. Petrônio Gontijo, por exemplo, percebeu que Autran começava a leitura com o espetáculo totalmente estruturado em sua cabeça. "Mesmo assim, ele permitiu que cada um oferecesse novos caminhos, que facilitavam o entendimento de cada personagem", afirmou. O domínio da peça pelo diretor é total - além de conhecer integralmente o texto (os atores se divertem ao flagrá-lo balbuciando as falas, durante os ensaios), Autran até encenou todos os personagens, para que suas orientações ficassem mais claras. "O impressionante é que ele foi perfeito em todas as interpretações e, mesmo não querendo induzir nenhum dos atores, sua influência foi forte", comenta Patrícia Gaspar, que vai continuar ocupando o palco do N.Ex.T com o espetáculo Futilidades Públicas, com sessões às quartas-feiras. Preconceito - Apesar da vasta experiência teatral, Paulo Autran confessou um certo nervosismo com a estréia de Dia das Mães. Não com a atuação de seu elenco, que o deixou maravilhado, com a reação do público, especialmente com a interpretação de Adriane Galisteu. "Ela revela uma inteligência rara, algo comovente, que me deixou muito satisfeito", conta o diretor, que a convidou depois de admirar sua participação em Deus lhe Pague, no ano passado. "Infelizmente, há ainda pessoas que não aceitam seu trabalho, mesmo sem conhecer." A segurança, porém, é uma das virtudes desenvolvidas por Adriane. Decidida a abraçar o papel (alterando, para isso, sua rotina para manter o programa diário É Show, na Rede Record, transmitido ao vivo), ela decorou suas falas ao longo das madrugadas e acatou atentamente as instruções do diretor. "Ela fez uma primeira leitura admirável do texto, o que depois facilitou as marcações." Adriane reconhece o preconceito de que é alvo, mas garante saber superá-lo. "Sei que muitas pessoas não reconhecem meu esforço, mas prefiro lembrar que já trabalhei com Bibi Ferreira, estou agora com Paulo Autran e recebi outros convites de profissionais renomados, como Gabriel Vilela", afirma Adriane, decidida a permanecer no elenco mesmo quando a peça excursionar. "Leslie é uma personagem tão fascinante e cativante que a surpresa do público pela sua opção sexual logo se torna secundária; por isso, vou fazer o possível para continuar no elenco." Dia das Mães - Comédia. De Jeff Baron. Direção Paulo Autran. Duração: 100 minutos. De quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 25,00 (quinta); R$ 30,00 (sexta e domingo); R$ 35,00 (sábado). Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, tel. 3662-1992. Amanhã (07)e quinta-feira somente para convidados, estréia sexta para o público.

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