Autor renega espetáculo

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Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Autor de espetáculos premiados como Salmo 91, o dramaturgo Dib Carneiro Neto questiona o uso de seu texto no espetáculo Paraíso, que estreou na última semana, no Sesc Belenzinho. Em carta divulgada à imprensa, Carneiro Neto acusa o diretor Antonio Abujamra de utilizar indevidamente a sua peça na montagem. "Meu interesse é que o maior número possível de pessoas saiba que não fui eu que escrevi aquilo", disse ele. "Não tenho a intenção de ameaçar a produção, nem nada disso, mas não quero que ninguém ache que aquela é uma obra minha." De acordo com o dramaturgo, o que se vê em cena é uma colagem de poucas frases do seu texto, "completamente descontextualizadas", com intervenções do diretor e um trecho de um conto de Chekhov. "E não estou reclamando só porque é ruim. Ainda que fosse algo maravilhoso eu não me reconheceria ali", observa o autor. "Há frases ali que eu jamais escreveria. Meu texto continua inédito."Procurado pela reportagem, Antonio Abujamra não quis se pronunciar sobre o tema. Antes da estreia, o diretor recusou-se a abrir os ensaios da peça à imprensa. Da mesma maneira, não quis dar entrevistas, limitando-se a responder questões por e-mail. Em sua concepção, o diretor abandonou indicações da dramaturgia original. O que seria um casal de idosos surge encarnado por dois jovens atores - Miguel Hernandez e Nathália Côrrea. Outra leitura particular do encenador diz respeito à figura de um filho. O que deveria ser só uma evocação surge personificado por 20 intérpretes.Carneiro Neto conta que também não teve acesso à montagem. "Ele só falou comigo uma vez, há dois anos." Em sua carta, o dramaturgo pede a retirada de seu nome de todo o material de divulgação do espetáculo: banners, folders, cartazes. Outro aspecto questionado pelo autor é a utilização de seu texto para obtenção de patrocínio. "O Ministério da Cultura, via Lei Rouanet, aprovou meu texto para a encenação. Não essa colagem."Apesar do protesto, a temporada de Paraíso não deve ser interrompida. A montagem deve seguir em cartaz até a data inicialmente prevista: 8 de abril. "Em respeito aos atores e produtores permitirei que a temporada prossiga no Sesc Belenzinho." O autor diz, contudo, que não permitirá novas apresentações do espetáculo depois desse prazo. Ainda não se sabe se Abujamra tem a intenção de seguir com a peça em cartaz. "Tenho recebido inúmeras manifestações de solidariedade", comenta o dramaturgo. "Tomara que isso valha para chamar a atenção para a questão dos direitos autorais."

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