"Auto"abre série de filmes nacionais na TV

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Por Agencia Estado
Atualização:

Da TV para o cinema e de volta à TV. A exibição de O Auto da Compadecida amanhã, às 21h55, na Globo, fecha o que não deixa de ser um ciclo. Guel Arraes adaptou o auto de Ariano Suassuna para a televisão, no formato microssérie. Foi o grande acontecimento da TV brasileira no fim de 1999, a prova de que a TV, sempre acusada de ceder à vulgaridade e à violência para faturar audiência, podia ter resposta do público com produtos de alta cultura. O "Auto" ganhou versão para cinema e - surpresa - bateu recorde de público, ultrapassando a barreira, hoje cada vez mais difícil no País, de 2 milhões de espectadores. Pois agora, ainda no formato filme, O Auto da Compadecida volta à Globo. A obra-prima de Suassuna e Guel Arraes inicia amanhã o Festival Nacional, que prossegue até domingo, mostrando só filmes inéditos. Além do "Auto", serão exibidos Como Ser Solteiro, de Rosane Svartman, Mauá - O Imperador e o Rei, de Sérgio Rezende, Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado, Os Matadores, de Beto Brant, e Villa Lobos - Uma Vida de Paixão, de Zelito Viana. Quando exibiu o Festival Nacional no ano passado, a Globo obteve boa audiência, até mesmo batendo o Show do Milhão, do SBT. O festival de 2001, que também começou em 1º de janeiro, mostrou Zoando na TV, Buena Sorte, For All, Amor & Cia., O Corpo, Bela Donna e Orfeu. Provaram, mais uma vez, que o cinema brasileiro tem público quando passa na televisão. Mas isso todo mundo sabe. Atual presidente do Congresso do Cinema Brasileiro, a produtora Assunção Hernandez lembra que, quando Benedito Ruy Barbosa humilhava a Globo com os altos índices de audiência de sua novela Pantanal, na rede Manchete, a toda-poderosa só conseguiu recuperar o público perdido quando programou um festival de filmes nacionais. Apesar do aval do público, é uma relação complicada. O filme brasileiro é quase estrangeiro na TV do País. Com exceção do Canal Brasil, assim mesmo na TV paga, as emissoras preferem investir no filme estrangeiro porque sai mais barato. Parte do debate sobre o futuro do cinema brasileiro passa pela relação com a televisão. É uma pauta obrigatória em foros como o Congresso do Cinema Brasileiro. Pelo próprio modelo de TV hegemônica instalado no País, as TVs raramente investem no cinema brasileiro. Tirando a Cultura, que tinha o PIC TV, seu programa de integração com o cinema, a Globo nunca teve o hábito de terceirizar sua programação, investindo, entre outras coisas, na produção de filmes. A Globo criou agora o seu braço para o cinema - a Globo Filmes. Isso ocorre no momento em que se intensifica o debate sobre o diálogo cinema-TV como forma de consolidação do produto audiovisual nacional. Incentivo - Desde que surgiu, a Globo Filmes tem suscitado muita polêmica. Normalmente, a Globo não investe na produção de filmes. Eventualmente, participa com alguma coisa mas os produtores e diretores continuam procurando recursos no mercado, por meio das leis de incentivo baseadas na renúncia fiscal. A crítica que muitos diretores fazem é pertinente: os diretores de marketing das empresas preferem investir num produto associado à marca da poderosa Globo. Sabem que vão ter visibilidade, mídia. Isso prejudica o artista que não consegue ou não quer fazer filmes associados à marca da Globo. A polêmica deve continuar ao longo deste ano, quando começa a funcionar a Ancine, Agência Nacional de Cinema, presidida por Gustavo Dahl, figura histórica do Cinema Novo e ex-presidente do Congresso do Cinema Brasileiro. A Globo começa bem o Festival Nacional. O "Auto" faz um belo trabalho de síntese da microssérie exibida na TV. É inteligente, criativo e tem um elenco brilhante, à frente Matheus Nachtergaele, que o próprio Suassuna considera o melhor dos intérpretes de João Grilo. Não há um só ator que não esteja bem no papel. Mesmo assim, quando Fernanda Montenegro entra em cena como Nossa Senhora, fica claro porque ela é a grande dama da arte da representação no País. Como Ser Solteiro é uma divertida crônica de costumes da juventude da Zona Sul carioca. Perfume de Gardênia é mais ambicioso e sofisticado, investindo nos jogos de linguagem que seduzem o diretor Almeida Prado. Mauá e Villa-Lobos são cinebiografias feitas com certo capricho, mas estão longe de suscitar entusiasmo. Os Matadores é o melhor de todos os filmes desse festival, melhor até do que O Auto da Compadecida. Um policial que percorre a trilha da violência na fronteira paraguaia. Beto Brant é fera. Esse guri, de pouco mais de 30 anos, filma bem demais.

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