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Áustria devolverá mais obras de arte roubadas pelos nazistas

Por ALEXANDRA ZAWADIL
Atualização:

A Áustria vai endurecer as exigências de restituição de obras de arte confiscadas durante o período nazista, disse o governo na quarta-feira, após críticas vindas da comunidade judaica. A ministra da Cultura, Claudia Schmied, disse que a isenção concedida às fundações privadas -- que eximiu o Museu Leopold, de Viena, da obrigação de devolver obras -- será revista. "Quero uma decisão clara em torno da questão da restituição envolvendo a Fundação Leopold", disse ela. "A discussão mantida nas últimas semanas não beneficiou a reputação da república, e especialmente não a da Fundação Leopold." Schmied pediu que a fundação autorize uma auditoria abrangente sobre a origem de todo o acervo do museu. Durante o governo nazista na Alemanha e países vizinhos, os bens pertencentes a judeus eram confiscados regularmente. A discussão voltou à tona depois de o líder da comunidade judaica austríaca, Ariel Muzicant, ter declarado em entrevista concedida à TV em fevereiro que o Museu Leopold deveria ser fechado até as leis serem modificadas. Uma das maiores atrações turísticas de Viena, o museu é classificado como fundação privada, apesar de ser financiado com dinheiro público. Além disso, o governo vai pedir a devolução de obras confiscadas entre 1933, quando Hitler subiu ao poder na Alemanha, e 1945, ano da derrota da Alemanha nazista. A lei atual cobre apenas o período entre 1938, quando a Áustria foi anexada pela Alemanha nazista, e 1945. Antes da guerra, a comunidade judaica austríaca tinha 200 mil integrantes e era uma das mais dinâmicas da Europa. Muitos judeus fugiram, e 65 mil foram mortos em "pogroms" ou campos de concentração nazistas. Apenas 10 mil judeus vivem na Áustria hoje. Pelas leis atuais, milhares de obras de arte já foram devolvidas a seus donos originais ou aos herdeiros deles. Não está claro até que ponto as mudanças anunciadas na quarta-feira vão aumentar as devoluções. A pesquisadora de arte Sophie Lillie disse à Reuters que o trabalho mais importante em jogo nessa discussão é "Haueser am Meer" (Casas à Beira-Mar), do expressionista do século 20 Egon Schiele. O quadro, que segundo uma avaliação vale 15 milhões de dólares, foi tomado pelos nazistas em 1938, e sua propriedade é reivindicada por uma família britânica. De acordo com o semanário cultural Falter, no mês passado, Rudolf Leopold, 83 anos, fundador da coleção Leopold e especialista em Egon Schiele, teria se recusado a devolver a tela. "Nunca extorqui ninguém nem comprei nada que soubesse ter sido propriedade de judeus", disse ele.

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