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Australianos abrem Festival de Rio Preto

A companhia Strange Fruit apresenta amanhã à noite, à beira da represa da cidade, o espetáculo The Field. O grupo russo Derevo e o belga Jan Fabre são as outras atrações internacionais do evento

Por Agencia Estado
Atualização:

Com a apresentação ao ar livre do espetáculo The Field, da companhia australiana Strange Fruit, começa nesta quarta-feira a 2.ª edição do Festival Internacional de São José do Rio Preto. A abertura, com início previsto para as 20h30, numa imensa área livre à beira da Represa Municipal, promete forte impacto visual. Em The Field, oito atores/bailarinos realizam um diálogo sem palavras, uma espécie de dança sobre varas de 4,5 metros de altura. Ao contrário das rígidas pernas-de-pau, o suporte utilizado é bastante flexível, possibilitando o toque físico entre os atores, além de muitas variações coreográficas. Os paulistanos que não tiverem a oportunidade de ir a São José do Rio Preto vão poder apreciar esse espetáculo em sua cidade. The Field terá apresentações na quarta-feira (12h30) e na quinta (18 horas), no Vale do Anhangabaú; às 20 horas, no sábado, no Sesc Belenzinho e, no domingo, às 15 horas, no Sesc Itaquera. A Strange Fruit é uma das três companhias estrangeiras a integrar a programação do festival. A outra é a russa Derevo, que igualmente trabalha com imagens e não com palavras e cujo espetáculo, Once, teve duas apresentações na cidade de São Paulo, no Sesc Anchieta, antes de seguir para Brasília e, por último, chegar a São José do Rio Preto. A terceira atração internacional, sem dúvida a de maior peso na programação, é o coreógrafo, artista plástico e diretor belga Jan Fabre, que apresenta dois espetáculos no festival. Um deles, My Movementes Alone like Streetdogs, vai integrar também a programação do evento Imagens da Dança, que teve início nesta terça-feira no Sesc Consolação, na capital paulista. Mas se o intercâmbio artístico com companhias do exterior é sempre enriquecedor, esse não é o aspecto mais importante da programação de um festival que, nesta edição, consolida e reforça a linha curatorial implantada no ano passado. Vale lembrar que a cidade abrigou durante anos um festival amador. No ano passado, a partir de uma parceria com o Sesc São Paulo, a coordenação-geral de Vitor Hugo Zenezi Longo e a produção de Flávia Carvalho e Jorge Vermelho, o evento ganhou nova dimensão e um formato original, privilegiando performances sobre um tema determinado e processos de criação, sem deixar de lado a tradicional mostra nacional e internacional de qualidade. Formato que se repete na programação desta 2.ª edição, que só termina no dia 28 e cujo tema é a obra de Antonin Artaud (1896-1948). Performances - As idéias do ator e teórico francês inspiram as performances de 14 grupos locais, especialmente encomendadas e patrocinadas pela coordenação do evento. Artaud inspira ainda a ambientação cenográfica de espaços teatrais e a escolha do homenageado desta edição, o ator brasileiro Rubens Corrêa, morto em 1996, criador do inesquecível monólogo Artaud. O homenageado é tema de uma exposição, com fotos de sua carreira, aberta ao público num casarão à beira da represa local, o chamado LugarUmbigo, que será também palco de performances de artistas como Denise Stoklos, Mariana Lima e Rodrigo Matheus, entre muitos outros que participam da mostra com seus espetáculos. Quatro montagens em processo de criação - sem dúvida, significativos no cenário teatral brasileiro - serão apresentadas no teatro municipal local - Os Sertões, de José Celso Martinez Corrêa com o Grupo Oficina; O Homem e o Cão, que vem sendo preparado há dois anos em Curitiba, no Ateliê de Criação Teatral (ACT) fundado pelo ator Luís Melo; uma montagem de Hamlet dirigida por Francisco Medeiros; e Woyzeck Desmembrado, adaptação do texto do alemão Georg Büchner dirigida por Cibele Forjaz, com Matheus Nachtergaele integrando o elenco de 11 atores. Tanto para os artistas envolvidos nesses quatro espetáculos quanto para o público, esta é uma oportunidade rara. No Brasil, o termo "ensaio aberto" denomina, na grande maioria dos casos, uma montagem já finalizada e esses ensaios - oferecidos gratuitamente ou a preços populares - servem apenas como aquecimento, antes da estréia oficial para a crítica. Não será esse o caso dos processos vistos em São José do Rio Preto. As quatro produções escolhidas estão efetivamente em criação. E a troca com o público pode apontar, para os artistas, o que deve ser melhor elaborado ou até descartado. E apurar a percepção do espectador para a linguagem teatral. "Nós vamos apresentar alguns fragmentos do trabalho, algumas cenas", diz Aderbal Freire-Filho, responsável pela direção e dramaturgia do espetáculo Cãocoisa e a Coisa Homem, criado a partir da relação do homem com seu cachorro. "Se apresentássemos tudo o que já fizemos até agora, do início ao fim, isso daria uma ilusão de acabamento que não corresponde à verdade." Aderbal tem passado as tardes escrevendo num hotel em Curitiba. À noite, ensaia com os atores para, na tarde seguinte, escrever mais uma pedaço do texto ou alterar o já criado. Principalmente num espetáculo desta natureza, criado a partir de uma vasta e longa pesquisa e de improvisações sobre o tema, o contato com um público atento pode contribuir na difícil tarefa de selecionar e dar forma à vasta matéria-prima oferecida pelo elenco ao diretor. A originalidade de boa parte da programção do festival não deve afastar o público mais convencional. Boas opções não faltam na tradicional mostra de espetáculos, como Calendário de Pedra, de Denise Stoklos; O Falcão e o Imperador, com Letícia Spiller; e Meu Destino É Pecar, com a Cia. dos Atores do Rio, entre muitas outras. Vale destacar ainda Hysteria, de São Paulo, e Camaradas, de Santa Catarina, duas montagens de companhias ainda pouco conhecidas, ambas apostando na forma simples e original, na relação bem próxima entre atores e público, ambas tendo alcançado forte empatia com o espectador em suas temporadas. A curadoria criou ainda o chamado Núcleo Ariano Suassuana. Nesta parte da programação, serão apresentadas as peças Auto do Estudante Que se Vendeu ao Diabo, com o Grupo Grial de Dança de Pernambuco; A Farsa da Boa Preguiça e o Auto do Novilho Furtado, com companhias cariocas; e uma montagem do Auto da Compadecida de um grupo local.

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