Atraso do Minc ameaça brasileiros em Cannes

Produtores veem desinteresse da Secretaria do Audiovisual

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Por Daniel Lisboa
Atualização:

Um atraso no pagamento do Ministério da Cultura para o programa Cinema do Brasil vem causando tensão entre as produtoras nacionais e já cancelou a participação do Brasil no Producers Network de Cannes, um dos maiores encontros para coproduções do cinema mundial. A informação é da assessoria do programa, e a expectativa agora é a de que a secretária de audiovisual do MinC, Ana Paula Santana, cumpra a promessa realizada na sexta-feira, quando abriu encontro no Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp) prevendo a realização do pagamento para amanhã. O MinC já descumpriu promessa anterior de pagamento no dia 22 de março. E-mail enviado no começo do mês às produtoras associadas ao programa alertou que, como a segunda parcela da verba orçada junto ao MinC estava atrasada desde outubro do ano passado, o programa que promove a internacionalização do cinema nacional dificilmente conseguiria subsidiar passagens, estadia e credenciais de representantes de produtoras brasileiras. Criado em 2006, o Cinema do Brasil foi desenvolvido em uma parceria entre o Siaesp, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Secretaria de Audiovisual do MinC, com apoio também da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Ministério das Relações Exteriores. O programa busca estimular a distribuição de produções brasileiras, a venda internacional de serviços de produção e a realização de coproduções internacionais. De acordo com dados divulgados pela assessoria do Cinema do Brasil, o volume de negócios movimentados pelo programa passou de US$27 milhões em 2007 para US$45,8 milhões no ano passado. Existe ainda a expectativa de que negócios iniciados em 2010 rendam mais US$67 milhões. Diretor do Cinema do Brasil, o cineasta André Sturm prevê que, "sem a verba, a delegação brasileira deverá ir a Cannes com no máximo dez integrantes, contra aproximadamente cinquenta em 2010". A proximidade do festival, que acontece entre os dias 11 e 22 de maio, dificultaria a busca por alternativas de financiamento. A cineasta Sara Silveira, integrante do comitê gestor do programa e sócia-fundadora da Dezenove Som e Imagem, produtora responsável por obras como Cinema, Aspirinas e Urubus, lembra que Cannes é a melhor oportunidade para o cinema brasileiro fazer negócios. "Meu conselho à secretária seria priorizar o que já está funcionando, e bem, como o Cinema do Brasil, em vez de eventualmente se preocupar em lançar novas ideias", diz. Já João Daniel, presidente da Mixer, acredita que o filme Besouro dificilmente teria sido um sucesso comercial se a sua produtora não contasse com o suporte do Cinema do Brasil. "Cento e dois países já fizeram a pré-compra da obra", revela. Estava marcada para hoje uma reunião entre a secretária Ana Paula Santana e o comitê gestor do Cinema do Brasil, encontro que deve ter o atraso da verba como pauta principal. Por meio de sua assessoria de imprensa, ela disse ao Estado que o programa Cinema do Brasil é uma prioridade e que o pedido para o pagamento já está com a Diretoria de Gestão Estratégica do Minc.

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