
11 de março de 2012 | 03h13
Uma grande exposição das obras de Henri Matisse recém-inaugurada em Paris traz uma nova perspectiva da obra dele, mostrando o meticuloso processo criativo por trás das formas simples e cores estridentes que caracterizam o estilo do artista francês. Matisse: Pares e Séries explora pela primeira vez como um dos maiores pintores do século 20 repetia a mesma composição diversas vezes, variando cor e técnica, antes de ficar satisfeito com o resultado.
Para um homem mais conhecido como líder do movimento fauvista e pelas rajadas de cor aparentemente espontâneas - como no seu A Alegria de Viver, de 1906 -, a mostra revela um lado inseguro e contido, a obstinada busca da perfeição, que permaneceria inalterado ao longo de seis décadas de carreira.
"Queríamos desafiar a ideia de que Matisse era um pintor feliz, fácil, uma espécie de virtuoso de simplicidade e felicidade", disse Cecile Debray, curadora da exposição que também põe em xeque o que Picasso teria dito sobre o francês de que "ele tinha o sol em suas entranhas". Trata-se de demonstrar que a obsessão e o rigor é que estavam no eixo central de sua produção.
O evento, que deverá ser um dos destaques da temporada cultural de primavera em Paris, ficará em cartaz até 18 de junho no Centro Pompidou, antes de ir para o Statens Museum for Kunst, de Copenhague e, em seguida, para o Metropolitan Museum of Art, em Nova York.
Preparada durante três anos, a mostra teve como objetivo a comparação de obras pintadas por Matisse sobre o mesmo tema e no período entre 1899 e 1952. Foram reunidas 60 telas e 30 desenhos, incluindo obras emblemáticas como a série de Nus Azuis de 1952, quatro colagens designadas por números romanos de I a IV. Ele começou a última delas primeiro, tentando três variações antes de voltar para concluir a primeira tentativa.
"Uma pintura é como um jogo de cartas: devemos conhecer desde o início o resultado que pretendemos alcançar no fim. Tudo deve ser resolvido de trás para frente de modo que tenhamos terminado antes mesmo de começarmos." A frase é atribuída a Matisse e é citada na exposição.
Embora a ideia do artista torturado não seja particularmente nova, o surpreendente no caso do pintor era sua disposição em revelar o processo trabalhoso por trás de sua arte.
Como mostra Pares e Séries, em 1945 Matisse exibiu seis de suas obras terminadas numa galeria de Paris, junto com fotografias emolduradas apresentando estágios anteriores dos mesmos quadros, revelando a gênese de cada tela e a complexidade oculta sob a aparente facilidade.
Cecile atribui a rara honestidade à necessidade do artista de ser levado a sério depois do Salão de Outono de Paris de 1905, quando as cores violentas de suas obras como Janela Aberta e Mulher com Chapéu renderam a ele e a seus colegas o apelido depreciativo de "fauves", ou "feras selvagens".
"Matisse era considerado um tipo brincalhão e o escândalo causado por ele foi real. Talvez (seu colega, o artista Marcel) Duchamp tivesse adorado a obra dele, mas Matisse não era assim, e insistiu nas tentativas de se explicar, de ser levado a sério", disse a curadora. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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