Assédio moral: tema do Salão de Paris

Psiquiatra francesa lidera polêmica ao lançar em Paris novo livro sobre o assunto. Assédio moral no trabalho significa fazer exigências absurdas ou inúteis, estabelecer objetivos irrealizáveis e, ao mesmo tempo, não dar as condições para que o trabalho seja feito

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Por Agencia Estado
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Assédio sexual é um assunto bastante discutido, mas a psiquiatra e psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen chamou a atenção, há dois anos, para um outro tipo de assédio: o moral. Seu livro Assédio Moral, publicado no Brasil pela editora Bertrand no ano passado, vendeu 400 mil exemplares na França e deu início a uma discussão parlamentar de uma legislação para regular o tema. Agora, com Malaise dans le Travail - Harclement Moral: Démêler le Vrai du Faux (Mal-Estar no Trabalho - Assédio Moral: Separar o Verdadeiro do Falso), lançado no Salão do Livro de Paris, nesta semana, ela busca refinar o debate que originou. O assédio moral no trabalho, explica Marie-France, "define-se como toda conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que porta atentado, por sua repetição ou sua sistematização, à dignidade ou à integridade psíquica ou física de uma pessoa, colocando em perigo seu emprego ou degradando o clima de trabalho". Do ponto de vista prático, significa fazer exigências absurdas ou inúteis, estabelecer objetivos irrealizáveis e, simultaneamente, não dar as condições de trabalho necessárias para que essa produção se faça. "Quando se assedia uma pessoa, o objetivo não é criticar seu trabalho, bem ou malfeito, mas visar-lhe pessoalmente, numa vontade consciente ou não de agredi-la." É uma relação perversa que se constrói no dia-a-dia, mas com conseqüências drásticas. Numa enquete que Marie-France fez, 36% dos assediados deixaram o emprego e 20% foram demitidos por falta. Não se trata de ataque às empresas. Para ela, o assédio moral ocorre entre duas pessoas e a melhor forma de resolvê-lo é chamar a arbitragem de uma terceira. Marie-France afirma que o termo assédio moral tornou-se de uso corrente, mas que vinha sendo confundido com outros problemas do mundo do trabalho, como o estresse, o conflito natural entre colegas e agressões pontuais. "Uma agressão pontual, a menos que seja precedida de múltiplas pequenas agressões, é um ato de violência, mas não de assédio moral." Segundo ela, essa confusão prejudica uma prevenção eficaz. As saídas legais, embora necessárias, não seriam a melhor solução para o problema. "Na última parte do livro, eu proponho soluções e prevenções. Mesmo que haja uma lei, quando se chega aos tribunais é tarde demais, as pessoas já estão doentes, porque o assédio tem conseqüências psicossomáticas muito fortes." O assediado, assim, deve anotar tudo o que se passa e buscar apoio no grupo, levando o problema à direção da empresa. "É muito difícil para uma pessoa visada defender-se sozinha." Se a própria direção estiver envolvida, a saída, afirma, é a busca de defesas jurídicas. Para a psiquiatra, o assédio moral não é uma novidade no mundo do trabalho, mas a introdução de novos métodos de administração reforçou estruturas que favorecem atitudes desleais. "Há contextos profissionais que favorecem o assédio moral. Há o estresse, problemas de comunicação, a pressão do trabalho. Mas acho também que estamos numa sociedade que valoriza o sucesso aparente e imediato, mais que trabalho de fundo. Cada funcionário tem de parecer ser o melhor o tempo todo não se aceita nenhuma fragilidade."

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