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As palavras de Eça de Queirós

Mostra no Memorial da América Latina recupera processo criativo do autor de O Primo Basílio, reunindo seus manuscritos, cartas, fac símiles e histórias

Por Agencia Estado
Atualização:

O centenário da morte de Eça de Queirós, completado neste ano, ganha, a partir desta terça-feira para o público (desde hoje para convidados), uma exposição no Memorial da América Latina. Trata-se de uma reunião de manuscritos, cartas, primeiras edições, fac símiles e histórias ligadas ao escritor português, autor de O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro e Os Maias. A mostra, organizada pela Biblioteca Nacional portuguesa principal possuidora de acervo relacionado a Eça, é a mesma que Lisboa viu entre junho e setembro. Mas essa não é uma exposição biográfica, explica Antônio Braz de Oliveira, chefe da divisão de reservados da biblioteca portuguesa, que organizou a montagem do evento. "É uma oficina da escrita", explica. Ou seja: a mostra Eça de Queirós: A Escrita do Mundo, antes de procurar dar datas e fatos relacionados à vida de Eça, procura apresentar o processo de elaboração dos textos pelo autor. Uma das peças exibidas nas vitrines, por exemplo, é um pequeno bilhete de anotações, em que se pode ler: "Vale a pena ser civilizado?". Também integram a exposição textos que não resultaram em livros, romances organizados, mas não escritos e diferentes edições de obras, que provam a busca perfeccionista de Eça, que ia reescrevendo e ampliando seus textos, conforme eles passavam do folhetim para o livro ou de uma primeira edição para a segunda. Um charme especial da exposição são as caricaturas de personagens de Eça, em tamanho real, dispostos entre os documentos e fotografias. Quem for ao memorial encontrará o óbvio conselheiro Acácio, a chantagista Juliana vigiando a chantageada Luísa, para ficarmos apenas nos integrantes de O Primo Basílio. A mostra está organizada em quatro módulos, relacionados a diferentes fases da carreira do escritor. A primeira delas cobre o período de 1866 a 1871, quando Eça inicia sua colaboração com os jornais portugueses. A primeira crônica do autor, Notas Marginais, publicada em 25 de março de 1866 pela Gazeta de Portugal, é exibida num fac símile do jornal, abrindo o módulo Aprendizagem da Escrita. Também integra essa fase a obra O Mistério da Estrada de Sintra, em co-autoria com Ramalho Ortigão, com quem edita o jornal satírico As Farpas. A segunda fase, chamada de Escrita do Real - 1871-1880, corresponde ao período em que Eça inicia seu ofício de diplomata atuando em Havana (Cuba), depois de uma fracassada tentativa de se instalar em Salvador, e em Newcastle (Inglaterra). Nesse intervalo, publica O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio. Também dá início à obra A Capital!, que só seria publicada postumamente, em 1925. Em 1880, Eça, com O Mandarim, deixa-se seduzir pela importância da imaginação. Ainda fez parte dessa terceira fase (Outros Mundos Possíveis) a publicação da obra-prima Os Maias, que tentou, como indicam manuscritos exibidos, adaptar, sem sucesso para o teatro. A última fase, de 1888 a 1900, que inclui biografias de santos e as obras A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires, é chamada pela exposição de Eterno Retorno. Eça de Queirós - A Escrita do Mundo - De terça a domingo, das 9 às 18 horas. Memorial da América Latina - Galeria Marta Traba. Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-9611. Até 26/11.

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