As dores de um herói popular

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Não raro, a intensidade dramática das canções de Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, é mordaz, uma síntese da acidez destilada pelo cantor durante a trajetória de menino do morro carioca ao estrelato nacional. Tuberculose e conturbadas questões de identidade eram os tonéis. Gonzaguinha não pode ver o primeiro filho nascer por medo de contaminá-lo. E nunca soube de fato se Luiz Gonzaga, o rei do baião, com quem manteve relações problemáticas durante a vida toda, era mesmo o seu pai, pois a mãe, cantora de rádio, tivera vários amantes antes de Gonzagão adotá-lo. Isso muniu Gonzaguinha de uma prodigiosa capacidade para aguentar e exprimir a dor, uma resistência sofrida que permeia nitidamente boa parte de seu cancioneiro, seja quando critica a apatia do povo brasileiro, quando cutuca o regime militar, ou quando fala de amor. Um belo resumo dessas facetas musicais é o disco Gonzaguinha da Vida, que chega às bancas no próximo domingo em relançamento da Discoteca Estadão. Gravado em 1979, quando Luizinho já era um ícone popular, o disco começa com a canção João do Amor Divino, em que canta: "39 anos de batalha, sem descanso na vida/ 19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga/ 9 bocas de criança para encher de comida/ ...Muita noite sem dormir na fila do INPS". É um relato semiautobiográfico ao mesmo tempo que uma crítica ao descaso dos políticos com o povo. Mas Gonzaguinha, que fazia muito sucesso com o público de baixa renda e a essa altura já fora rotulado de cantor brega pela crítica musical, tem seus melhores momentos quando fala de amor. Isso fica claro nas belas Diga Lá Coração e Não Dá Mais Pra Segurar, que choram sem medo de ser feliz (ou triste), como se fossem as últimas catarses do cantor. LUIZ GONZAGA JR. GONZAGUINHA DA VIDAR$ 14,90

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