As dicas possíveis num mar de opções

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Seria muita pretensão dar conta de uma mostra de mais de 400 títulos. Ninguém sequer tem uma visão de conjunto de algo dessa dimensão. O gigantismo a esconde. Assim, é bastante possível, e até mesmo provável, que, em meio a essa imensa programação, se encontrem tesouros anônimos, pérolas cinematográficas perdidas nesse oceano fílmico. Cabe, como acontece a cada ano, garimpar por conta própria, confiar no boca a boca e, talvez, pescar uma dessas preciosidades das quais nunca ninguém ouviu falar e que, ao final da maratona, recebem o rótulo de "imperdíveis". É o fator acaso que acaba guiando o cinéfilo disposto a seguir a Mostra, afinal de contas. Ele tem de ser um desbravador. Dentro do possível, cabem algumas indicações, entre o que já é conhecido. Por exemplo, uma boa aposta de provável cult deste ano é em Mistérios de Lisboa, do franco-chileno Raul Ruiz, com seus 272 minutos de duração. O filme rendeu a Ruiz o prêmio de melhor diretor no recente Festival de San Sebastian. É um novelão de altíssima qualidade, baseado na obra de Camilo Castelo Branco. Vale cada minuto do seu tempo. Há atrações que não se pode dispensar, mesmo que seja em função da expectativa que despertam. Ou quem gosta de cinema pode esnobar um legítimo Godard, mesmo que seu Film Socialisme tenha sido considerado indigesto por parte da crítica que já o viu? Aposta mais certa é no novo Manoel de Oliveira, O Estranho Caso de Angélica, que abre o evento dia 21 no Auditório Ibirapuera. Até já ficou cansativo dizer que Oliveira é o mais velho cineasta em atividade, mesmo porque o homem já tem 101 anos e filma cada vez melhor. Não tem medo de viagem e confirmou presença em São Paulo, onde já esteve várias vezes. Outro que não se pode dispensar é Cópia Fiel, do iraniano Abbas Kiarostami, um dos mestres do cinema contemporâneo. Há, também, é claro, os vencedores de grandes festivais, que já vêm com o aval dos prêmios recebidos. Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul, ganhou Cannes; Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola, venceu em Veneza. Apichatpong é um dos autores contemporâneos mais interessantes. Sofia, filha do grande Francis Ford, é moça de talento. Este seu novo filme reencontra o universo do seu melhor trabalho até agora, Encontros e Desencontros (Lost in Translation), com seu mundo de hotéis anônimos, personagens vazios e sem rumo na vida. Sem ser genial, é muito bonito.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.