As crônicas 'sem rugas'de Werneck em livro

Cronista do 'Estado' lança 'Sonhos Rebobinados'

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Por Maria Fernanda Rodrigues
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Ao reunir esses textos em livro, acabou fazendo um inventário "não deliberado" do que viveu. Uma entrevista feita no passado, dois silenciosos encontro com Jean-Paul Sartre pelas ruas de Paris e o apartamento em que viveu na cidade, o discurso de Fidel Castro que assistiu em Cuba são algumas das lembranças evocadas nas crônicas. "Pode ser da idade, mas sinto essas coisas vazando semana a semana no que escrevo." A crônica, porém, diz Werneck, é "muito menos um assunto do que uma pegada, um olhar". E quanto à velha discussão sobre onde se encaixa o gênero, ele comenta. "Na crônica, a maneira de escrever é mais importante do que a coisa que está sendo dita. E quando a maneira de dizer é tão ou mais importante que a coisa dita, você tem literatura. Do contrário, Grande Sertão: Veredas seria a história de um vaqueiro travesti." Ele completa: "E é literatura até pela exclusão, já que não é editorial, não é jornalismo".

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Ele vê o cronista como uma pessoa que consegue estabelecer uma relação de cumplicidade com o leitor, e que inicia, com aquele texto, uma boa conversa com seu interlocutor. "O bom cronista dá ao leitor a sensação de que aquilo foi escrito para ele." O que é diferente do texto de um colunista. "Quando leio uma coluna, me beneficio daquela leitura, mas tenho a impressão de que o cara está falando de cima de um caixotezinho. O cronista me dá a sensação de estar sentado comigo no meio-fio." Entre suas preferidas, está Meu Quixote, sobre o pai (leia trecho acima). Há, também no volume, Cemitério Virtual, escrita quando observou que uma pessoa morre, mas segue viva no Facebook. Quando se tornou avô, se deu conta de que não havia uma palavra para designar sua nova condição, como paternidade ou maternidade, e escreveu sobre o tema em Papo de Avoado. Paixão Encadernada aborda as marcações que fazemos em nossos livros. Esses são alguns exemplos de crônicas publicadas neste terceiro volume de Werneck - o segundo com textos feitos para o Estado. "Tudo é assunto, e às vezes o assunto é nada", resume. Werneck, jornalista, cronista, biógrafo e mineiro que vive há 44 anos em São Paulo, tem como mestres Rubem Braga, Paulo Mendes Campos - de quem gosta cada dia mais -, Fernando Sabino e Antonio Maria. "Eles pegam uma coisa aparentemente insignificante e dela extraem algo interessante e bom de ler", comenta. A transição do jornalismo para a crônica foi casual. "Mas se for ver bem, ela estava prevista. Fui criado na fase esplêndida da crônica e era natural que ela ficasse em mim, Eu comprava a revista Manchete, que tinha quatro cronistas, sendo que três deles eram Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Rubem Braga. Era o tempo também de Drummond, Bandeira, Nelson Rodrigues, ou seja, uma floração enorme."SONHOS REBOBINADOSAutor: Humberto WerneckEditora: Arquipélago (232 págs., R$ 35)Lançamento: hoje, às 19 h, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915)

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