As cores de Hélio Oiticica dominam Tate Modern, em Londres

Galeria inaugura mostra cronológica e anuncia a compra de nove obras do artista

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Por Redação
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A obsessão pela cor do artista brasileiro Hélio Oiticica, desde seus desenhos abstratos iniciais até as instalações que lhe deram fama internacional, é o fio condutor de uma exposição na Tate Modern londrinense que será inaugurada nesta quarta, 6. A mostra cronológica The Body of Colour (O corpo da cor) documenta em dez salas a evolução do artista rompendo os limites tradicionais da pintura e da escultura. "Na obra de Oiticica, a cor não é somente a cor, mas um elemento em si mesmo, um elemento fundamental", explicou hoje a curadora, Mari Carmen Ramírez, na apresentação para a imprensa da mostra que poderá ser vista até 23 de setembro, quando será transferida para o Museu de Belas Artes de Houston. Oiticica (1937-1980) chega ao panorama artístico brasileiro na década de 1950, em um momento de otimismo antes que a ditadura militar (1964-1985) frustrasse os sonhos utópicos de construção de uma sociedade moderna. Foram os anos em que Lúcio Costa e Oscar Niemeyer desenvolveram seus projetos arquitetônicos, foi criada a Bienal Internacional de São Paulo, fundados os museus de arte moderna do Rio e São Paulo e nasceu o Grupo Frente (1955-1956), um movimento artístico radical ao qual se uniu Oiticica. Nessa época o artista, que agrupa seu trabalho em séries, cria obras abstratas, influenciadas por mestres modernistas como Paul Klee E Piet Mondrian, onde os limites entre cor e estrutura começam a desabrochar e se encontram as raízes de seu trabalho Posterior. Depois, chegariam suas séries Bilaterais (1959), Relevo Espacial (1960) e Grandes Núcleos (1960-1966), nas quais Oiticica cria obras de formas irregulares, pintadas por ambos lados e que não foram desenhadas para serem coladas na parede, mas no teto, para que o espectador caminhe entre elas. Pintura para vestir A exposição mostra a verão completa totalmente restaurada de Grandes Núcleos (1960-1966), uma obra espetacular formada por mais de 30 painéis pintados de ambos os lados e criados para permanecer suspensos no teto, pensados para permitir a interação do espectador com a obra de arte. Novos passos nesta evolução são os trabalhos denominados Bólides (1963-1969), caixas ou garrafas com pigmentos, espumas, espelhos ou terra de várias cores e a série Penetrável (1960-1979), labirintos fechados que permitem ao espectador "entrar dentro da pintura", explica a curadora. A mostra chega ao seu ápice com a série Parangolé (1964-1979), capas, vestidos e outras prendas de diversos materiais criados por Oiticica após sua imersão no mundo do samba, como resultado de seus contatos com a escola de samba Mangueira, no Rio. Como destaca Ramírez, "são pinturas desenhadas para ser vestidas enquanto se dança não só ao ritmo de samba, mas também de rock, dos Beatles ou dos Rolling Stones", consumação de esforços do artista por incentivar a interação entre o espectador e a obra e liberar a cor em espaço tridimensional. Galeria compra 9 obras Na apresentação da mostra, o diretor da Tate Modern, o espanhol Vicente Todolí, anunciou a aquisição por parte da galeria londrina de nove obras do artista, entre elas, a instalação Tropicália, obra chave de Oiticica que deu nome ao movimento cultural homônimo. Tropicália poderá ser vista na Tate como marca de uma Segunda mostra, Oiticica em Londres, que documenta a época em que o artista brasileiro passou exilado na capital britânica. A galeria londrinense adquiriu também quatro desenhos abstratos da série Metaesquemas e quatro esculturas que formam parte da mostra The Body Of Colour, o que permite à Tate contar com a coleção mais significativa de obras do artista brasileiro. Para Ramírez, essas aquisições "são sumamente importantes", especialmente para que o público europeu conheça mais o trabalho de um artista que permaneceu fora do mercado por desejo de sua família, mas cuja fama não deixou de crescer desde sua morte com apenas 42 anos. Oiticica nasceu em 1937 e sua vida foi interrompida abruptamente por um ataque cardíaco fulminante em 1980.

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