Artistas portugueses abrem exposição em São Paulo

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Por Agencia Estado
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Nuno Pontes e Pedro Tudela, que estão entre os artistas portugueses em maior evidência no cenário internacional, inauguram esta noite suas primeiras exposições brasileiras, dando continuidadade a uma parceria que vem sendo amadurecida desde 1997 entre a Casa Triângulo e a Galeria Canvas, no Porto. José Mario Brandão, proprietário da Canvas, é um dos principais divulgadores da arte brasileira em terras portuguesas e já realizou exposições de vários artistas nacionais, como Efraim Almeida, Lygia Pape e Nazareth Pacheco. Como contrapartida das exposições de Pontes e Tudela, ele mostrou há alguns meses a obra de dois artistas representados pela Casa Triângulo, Sandra Cinto e Albano Franco. Ao escolher Pontes e Tudela para dar início à parceria com a Canvas, o marchand Ricardo Trevisan não estabeleceu nenhum critério curatorial, optando por realizar duas mostras individuais simultâneas. Nas primeiras salas da galeria, Tudela mostra uma instalação na qual combina diversos elementos. Imagens digitalizadas de igrejas em ruínas, cadeiras usadas como alto-falantes que emitem sons distorcidos e angustiantes compõem a instalação Zona Z, um claro exemplo da linha de trabalho do artista que, segundo o crítico português Alexandre Melo, se situa "entre a urgência de uma aflição e o sonho de um ritmo". A obra de Pontes tem uma precisão mais cirúrgica. Literalmente. Atacando sem piedade o fetichismo consumista, ele cria delicados painéis no qual o espectador descobre pequenos esqueletos de ratos convivendo com o lado banal da vida, como caixas de sabão em pó. Radicado há anos nos Estados Unidos, Pontes parte de elementos evidentemente repugnantes (esqueletos de ratos dissecados e pintados por meio de reações químicas) para fazer uma cruel metáfora. Seus ratinhos, aliás, possuem uma estranha e mórbida semelhança com os fetos humanos. Em seu trabalho, a "embalagem comercial e o desenvolvimento pré-natal combinam-se para criar um cenário sinistro do homo consumerous", escreve Patrick Murphy. "O trabalho de Pontes é um grito para prestarmos atenção, para estarmos atentos às exigências e distorções do capitalismo de mercado livre. O seu método não é a denúncia ou a raiva; serve-se sim de um certo esplendor para provocar a reflexão", conclui o crítico em texto publicado em 98. Apesar das evidentes distinções entre os dois artistas, é inevitável constatar após essa aproximação casual a grande necessidade de a arte contemporânea de refletir sobre a sociedade multifacetária e dominadora, quer colocando o foco sobre o vazio da busca desenfreada pelo consumo e construindo um universo explicitamente antiespetacular, como faz Pontes; quer inundando o espectador com um excesso de informações e sensações distorcidas, como se propõe Tudela. Nuno Pontes e Pedro Tudela - De segunda a sexta das 11 às 19 horas; sábado até 15 horas. Casa Triângulo. Rua Bento Freitas, 33, em São Paulo, tel. ( 11) 220-5910. Até 23/12. Abertura sábado, às 12 horas.

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