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Artista terá obra exposta em instituto

Por Agencia Estado
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Tomie Ohtake sempre gostou de desenhar e diz que quando jovem "pintava na cabeça", mas foram necessários vários anos e o estímulo de um colega japonês - com quem era mais fácil conversar, por causa da língua - para que ela se iniciasse na pintura, desistindo de ser apenas uma dona de casa para tornar-se uma das mais renomadas artistas do País. Pintora, escultora, gravurista e uma das principais criadoras de obras públicas no Brasil, ela passará a ter sua obra exposta permanentemente no instituto que receberá seu nome. Também está sendo preparado um livro sobre seu trabalho, com textos de críticos e historiadores como Frederico Morais, Agnaldo Farias e Miguel Chaia. Um levantamento de sua produção está sendo feito e já foram catalogadas mais de mil obras de sua autoria. Com uma vitalidade invejável, principalmente para uma senhora de 86 anos, Tomie conta que chegou ao Brasil em 1936, com apenas 23 anos. Veio visitar um irmão, mas a 2.ª Guerra a segurou por aqui. Acabou casando, tendo dois filhos e só em 1952 se tornou artista. Nos primeiros dois ou três anos sua pintura era figurativa, mas aos poucos foi simplificando as formas até tornar-se uma das grandes expoentes do abstracionismo informal, ao lado de Manabu Mabe. "No Japão é tudo abstrato, até mesmo a organização da casa", diz Tomie, buscando uma explicação para o rumo que tomou. "Acho que carrego esse espírito, essa busca de algo mais simples e mais de dentro, desde pequena", diz ela, acrescentando, no entanto, que se considera totalmente brasileira, tendo adotado essa nacionalidade nos idos de 1968. Apenas lamenta que após tantos anos aqui ainda tenha dificuldades em falar em português. Talvez por isso precise tanto da arte para se expressar. "Minha pintura é ocidental, mas o espírito é oriental; as duas coisas andam juntas", resume. Além da informalidade, são as cores alegres de suas telas que muitas vezes são atribuídas à influência brasileira. Ela concorda. "Sinto que o Brasil é amarelo; até o ar, quando o tempo está bom, é amarelo" explica, de forma poética e simples. Consagrada principalmente por sua pintura, a artista gosta de desafios. Na 23.ª Bienal de São Paulo, por exemplo, surpreendeu todo mundo ao mostrar pela primeira vez uma série de esculturas brancas que mais pareciam linhas desenhadas no espaço. "Quando fazia pintura, sempre me perguntava como isso ficaria se saísse do plano", diz ela, mostrando o resultado em uma peça da mesma série, instalada no jardim de sua casa. Ultimamente, Tomie vem realizando parcerias com o filho arquiteto, Ruy Ohtake, criando esculturas para suas construções. Demonstrando grande orgulho com o fato de os filhos trabalharem com cultura, ela evita falar muito sobre o instituto e procura diminuir a importância dessa homenagem. "Meus filhos estão pensando mais culturalmente, mas colocaram meu nome", diz ela. "Espero que esse instituto não seja um museu, que seja mais movimentado, que mostre a cultura brasileira em primeiro lugar, mas também reflita a cultura de todo o mundo", acrescenta ela. Aparentemente, suas expectativas estão sendo atendidas.

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