Artista português abre exposição em SP

A exposição Estrela Polar, concebida especialmente para a Galeria Brito Cimino, é composta por uma série de 14 pinturas recentes e um trabalho mais antigo

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Por Agencia Estado
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O artista Albuquerque Mendes, que inaugura na noite desta quinta-feira sua primeira exposição em São Paulo, costuma se apresentar com a seguinte frase: "Tenho 49 anos, sou português, sou pintor e amo o Brasil." Realmente, o Brasil parece ser uma das questões centrais do trabalho desse pintor e performer de grande renome em seu país natal e que vem conquistando cada vez mais admiradores deste lado do Atlântico. A exposição Estrela Polar, concebida especialmente para a Galeria Brito Cimino, é composta por uma série de 14 pinturas recentes e um trabalho mais antigo (que estabelece como que uma ponte com sua pesquisa anterior), conectados por uma espécie de rio. Rio este que é simbolizado por faixas em cor azul pintadas à moda dos lambris do barroco mineiro. A temática mais religiosa do trabalho anterior, que abre a mostra, ecoa apenas no enorme auto-retrato como Jesus Cristo que ocupa a parede central da galeria. Em vários momentos, Mendes - criado na medieval e fria Trancoso por uma mãe profundamente religiosa e um pai militante comunista - apropriou-se de motivos católicos, usando-os de forma provocativa para questionar temas polêmicos como a violência e a sexualidade. Mas há cerca de uma década ele vem aproximando-se cada vez mais da temática indígena, mais precisamente o tema do encontro. "Adoro a imigração. Somente se evolui quando há contato, relação", explica. Essa mesma atitude se dá no trabalho, já que Mendes está permanentemente buscando interagir com o público, despertando nele novos pensamentos e emoções. Sua pintura é complexa, cheia de referências (da pintura seca de Almeida Junior a ícones associados ao imaginário indígena) e imagens ocultas, que se revelam pouco a pouco ao espectador atento. Suas imagens, que lembram mais o barroco colonial brasileiro que o português, são como sobreposições de várias peles, de cores intensas (pela primeira vez ele está usando também esmalte sintético) e formas em oposição. Associar esses trabalhos a um discurso ecológico seria uma espécie de simplificação. Assim como as formas montanhosas são uma topografia imaginária de rostos e não de pedra. Sem temer o conteúdo ("a pintura é outra coisa além de uma superfície com pigmentos"), o artista - que já expôs em vários museus e centros culturais do País - coloca-se de maneira pouco usual em seu trabalho. Quer por meio de sua auto-imagem (retratando-se sempre com a cicatriz no peito que ganhou quando seu coração foi operado), quer por meio da defesa de seus idéias seja usando a pintura, seja lançando mão de performances provocativas, que defendem sobretudo o caráter público e sentimental da obra de arte. "O meio é diferente, mas a mensagem é a mesma", acrescenta.

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