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Artes gráficas ganham museu em SP

O cartunista Gual realiza seu sonho e inaugura hoje o Museu das Artes Gráficas do Brasil, um acervo com 10 mil originais de cartuns, charges, caricaturas e HQs

Por Agencia Estado
Atualização:

Gualberto Costa, o Gual, segurava uma caricatura gigante feita por Henfil. O personagem: Teotônio Vilela, político, também chargista, o mineiro que levou o título de Menestrel das Alagoas. Dia 25 de janeiro de 1984. Gual era apenas um dos dezenas de artistas gráficos que levavam o cartaz e bradavam pelas Diretas-Já no comício que reuniu 300 mil pessoas na Praça da Sé. "Quando estava com aquela imagem nas mãos, olhei em volta e vi quantos artistas maravilhosos o País tem, vi que a charge, o cartum e a caricatura eram movimentos extremamente populares. E que, apesar de o mundo ter 83 museus sobre artes gráficas, o Brasil não tinha nenhum acervo sobre essa arte", diz o cartunista. Quase 17 anos se passaram. Vieram as eleições diretas, a ditadura caiu, passaram-se inúmeras gestões na Secretaria da Cultura. Hoje, às 19h, para convidados, finalmente Gual consegue inaugurar um espaço dedicado às artes gráficas. E valeu a pena esperar. A partir de amanhã, a população poderá conferir, e de graça, um acervo de 10 mil originais de cartuns, charges, caricaturas e histórias em quadrinhos no Museu das Artes Gráficas do Brasil, instalado em duas galerias do Arquivo do Estado, em Santana, bairro da zona norte da cidade. "O local oferece a melhor garantia que um artista pode ter. É o único lugar no Brasil com tecnologia de restauro e conservação de papel", diz Gual, diretor do museu. São peças de aproximadamente 80 artistas que retrataram o Brasil durante mais de 165 anos. "Mas o forte é a arte gráfica contemporânea, conseguimos reunir 7 mil doações. Trabalhos de artistas mortos foram comprados. É um acervo razoável, mas ainda quero muito material histórico", completa. Na parte histórica, há caricaturas do pintor do período imperial Araujo Porto Alegre, um dos precursores das artes gráficas no Brasil. Há também trabalhos de Ângelo Agostini, quadrinista, criador do personagem Nhô Quim. "Mas ainda faltam trabalhos de J. Carlos", lamenta Gual. "Ano que vem, espero conseguir algo dele para o acervo". Também em destaque, uma página da história em quadrinhos publicada por João Oliveira na Itália, retratando a Guerra de Canudos. Entre contemporâneos, desenhos de Millôr Fernandes, Lan, Henfil, Angeli, Chico e Paulo Caruso. "Tenho até umas vinhetinhas originais do Pasquim com o Sig, o ratinho do Jaguar", diz Gual. Marcando a abertura do museu, estão programadas duas exposições inéditas, até o dia 31 de janeiro. A primeira, sobre o trabalho do cartunista Laerte, mostrando os trabalhos mais recentes até uma coleção particular, muito antes dele imaginar que um dia seria famoso. Há até desenhos de infância, feitos em papel de pão. A segunda exposição apresenta um trabalho de cada artista do acervo. "A cada um ou dois meses, os desenhos expostos serão trocados. Estamos programando para o ano que vem outras mostras. Já agendada para o início de 2003 uma comemorativa dos 70 anos de Ziraldo". A partir de janeiro, o museu irá incrementar sua programação. Haverá um Hall da Fama, onde semanalmente um artista gráfico se apresentará contando sua carreira. Serão inaugurados também uma biblioteca com 12 mil publicações, um espaço para cursos profissionalizantes, um arquivo digitalizado de imagens, um festival de documentários que retrata vida e obra dos artistas, além de publicações de revistas informativas, livros e catálogos. Museu das Artes Gráficas do Brasil. Arquivo do Estado (R. Voluntários da Pátria, 596, Santana; tel.: 6221 4785 r. 254). De seg a sex, das 9h às 16h. Grátis.

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