Arte que transita entre extremos

Uma questão parece ser central na obra da artista Patricia Maria Mesquita: a necessidade de elaborar seu trabalho a partir de uma série de ícones relacionados ao universo feminino

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Por Agencia Estado
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A acumulação, a contradição e a inexistência de pontos confiáveis de referência, características indiscutíveis dos nossos tempos, são também os elementos centrais do trabalho de Patricia Maria Mesquita, que inaugura esta noite sua segunda exposição individual. As obras reunidas no espaço Virgilio pertencem a três diferentes famílias. Lá estão as experiências feitas pela artistas com imagens de santos, os detalhes de corpos femininos e as colagens/pinturas, que compõem o maior grupo de trabalhos. Nos dois primeiros grupos, o principal instrumento de trabalho de Patricia é o computador. Ela elege uma imagem e a retrabalha digitalmente, quer agregando pinceladas em cores fortes (dando às apelativas imagens femininas movimento e uma vibração), quer sobrepondo os vários estudos que fez das imagens de devoção (desta vez religiosa), criando altares que mesclam o procedimento artístico de vanguarda à necessidade de buscar inspiração e conforto na solidez da arte barroca e do sincretismo religioso brasileiro. Um dos trabalhos feitos a partir de uma imagem de Nossa Senhora, por exemplo, é resultado da sobreposição de oito camadas, adquirindo assim uma leveza e uma indefinição que a afastam do mundo concreto, da representação figurativa. No caso das colagens, a idéia de sobreposição se dá de outra forma. Nelas não é possível conciliar os vários elementos através do recurso à transparência. A tinta e as imagens recortadas de revistas de moda se chocam nas telas, parecem transitar entre extremos, dando lugar a composições vibrantes e atormentadas. A inclusão do texto, nos trabalhos mais recentes, só faz aumentar a tensão e a sensação de opressão que emanam das telas. A cor também deixa de ter tanta importância, dando espaço a uma abordagem mais gráfica e menos harmoniosa dos elementos compositivos. Os temas tratados são vários e referem-se a acontecimentos do dia-a-dia, que de alguma forma mobilizaram a artista. Há uma tela, por exemplo, que trata dos irmãos guerrilheiros tailandeses. Ou o trabalho que dá título à mostra, Quod me Nutruit me Destruit, que mescla referências tão opostas quanto à Mona Lisa e o universo dos cartuns. Mas uma questão parece ser central na obra da artista: a necessidade de elaborar seu trabalho a partir de uma série de ícones relacionados ao universo feminino. Essa apropriação acaba sempre por denunciar a opressão das mulheres. Anúncios de lingerie, poses sensuais, decotes e beijos provocantes, tudo revela a incapacidade da sociedade machista de conciliar os opostos, de unir os estilhaços em prol de uma harmonia e interesse comuns. Em Finados 2001 essa questão chega ao extremo, quando Patricia pinta com tinta branca uma venda sobre os olhos da mulher que está deitada no centro da tela. Serviço Patricia Maria Mesquita. De segunda a sábado, das 10 às 18 horas. Espaço Virgilio. Rua Virgílio Carvalho Pinto, 426, tel. 3062-9446. Até 23/5. Abertura às 20 horas

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