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Arte e política travam batalha em leilões de pinturas russas em Londres

Por ANASTASIA GORELOVA
Atualização:

Pinturas e política travaram uma disputa em Londres nesta semana, quando duas das maiores casas de leilão do mundo, a Christie's e a Sotheby's, competiram para abastecer o imprevisível mercado de obras primas da arte russa. A arte se impôs na venda da Christie's na segunda-feira, quando o “Retrato de Maria Zetlin”, de Valentin Serov, foi negociado por espantosos 9,2 milhões de libras (14,42 milhões de dólares), superando várias vezes sua já alta estimativa pré-venda de 2,5 milhões de libras. Mas a política eclipsou as vendas na poderosa rival Sotheby's no final da segunda-feira, na qual só 30 por cento das obras oferecidas foram compradas e o favorito pré-venda, “Ivan Susanin”, de Konstantin Makovsky –também avaliado em 2,5 milhões de libras– não encontrou comprador. Especialistas das duas casas interpretaram os resultados em vista do pano de fundo das sanções econômicas ocidentais à Rússia em reação à anexação da península ucraniana da Crimeia por parte de Moscou e a seu apoio aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia. “O sucesso da venda mostra que a arte russa ainda tem grande procura e que a atividade de compra russa está em um nível ainda mais elevado do que em novembro passado, quando o leilão totalizou 16,5 milhões de libras”, disse Sarah Mansfield, chefe do departamento de arte russa da Christie's de Londres. O leilão da Christie's arrecadou mais de 20 milhões de libras, apesar dos temores de um apetite menor dos investidores devido às sanções ocidentais impostas à economia russa. O panorama foi menos otimista na Sotheby's, cujo leilão só rendeu cinco milhões de libras no total e na qual outro favorito pré-venda, “Bakhchisarai”, de Boris Kustodiev, só obteve 1,05 milhão de libras, ante estimativa de 1,2 milhão a 1,8 milhão. “Não há dúvida de que a geopolítica da região está causando um certo tremor em nosso mercado russo”, afirmou Mark Poltimore, vice-chefe da Sotheby's na Europa. Este cenário deve se refletir “em todas as vendas de todas as quatro principais casas de leilão”, acrescentou. O diretor russo da Sotheby's, Mikhail Kamensky, destacou o valor decrescente do rublo, que foi afetado pelas sanções e perdeu 25 por cento de seu valor frente ao dólar este ano, como um fator que prejudicou as vendas. “Os melhores trabalhos ainda estão sendo vendidos e por preços altos”, declarou. “O mercado não está morrendo, só desacelerando. Haverá uma correção, e grande, no futuro próximo”. A semana de arte russa vai até o dia 26 de novembro.

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