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Arte e erotismo em quadrinhos

Começa neste sábado em São Paulo uma feira toda dedicada à HQ erótica. É uma oportunidade única de conferir as musas consagradas de Manara, Crepax e Varrene e também as heroínas dos Hentais japoneses, a mania do momento

Por Agencia Estado
Atualização:

A partir deste sábado os fãs de quadrinhos em São Paulo têm uma chance de apimentar suas coleções. A Erotic Art Festival põe à venda até o dia 11 cerca de 100 títulos da HQ erótica, nacional e importada, com descontos que vão até 50%. O local do evento é a Comix Book Shop, livraria especializada em quadrinhos. A variedade é o ingrediente principal da feira. Há desde musas de épocas passadas, como a série completa de Druuna, a roliça criação do italiano Paolo Serpieri, até a mania do momento, os Hentais. Mas no seio das prateleiras podem ser encontradas publicações interessantes e pouco conhecidas, como a linha erótica da editora alemã Taschen, que tem quadrinhos, fotos e caricaturas. Pela previsão de Jorge Rodrigues, gerente da livraria, os clientes "sofisticados" devem ir atrás dos livros da Taschen, ao contrário da garotada, cuja preferência é pelos traços japoneses do Hentai. Mas o xodó de Jorge Rodrigues não passa por aí. O objeto de desejo da Erotic Art Festival deve ser mesmo o livro Colonnese - A Arte Exuberante de Desenhar Mulheres. A editora Opera Graphica mandou imprimir mil exemplares do livro de Eugenio Colonnese em que ele explica como desenhar mulheres esculturais. Com um detalhe: todos os exemplares são numerados e autografados pelo autor. "Colonnese ensina você a desenhar a mulher dos seus sonhos", diz o gerente da Comix. Ele destaca, também, o material de ponta de estoque da linha Ópera Erótica, da editora Martins Fontes, pela qual saíram no Brasil histórias de importantes quadrinistas eróticos. Milo Manara, Giardino, Guido Crepax, Alex Varenne e outros estão na lista, cada qual com poucos exemplares à venda na feira. Mas algumas ausências serão sentidas. Valentina, por exemplo, a sensual fotógrafa criada por Guido Crepax, não é mais editada no Brasil. Outro ícone do erotismo em quadrinhos, o mítico Carlos Zéfiro, não estará presente: suas obras não têm edições recentes. As mulheres de Milo Manara, alimento do sonho erótico de gerações de fãs de gibis, devem ficar cada vez mais raras no mercado brasileiro. A editora portuguesa Meribérica, responsável pela publicação de Manara no Brasil, faliu recentemente. Com isso, a única revista do mestre italiano que estará na Erotic Art Festival é o segundo número da série O Clic. "Quem achar algum exemplar do resto da obra dele, compre, porque vai ficar mais escasso", diz Jorge Rodrigues. Hentai - A parte da HQ erótica que vai muito bem é o Hentai. Quem já viu desenhos animados na TV do tipo Pokemón sabe que os japoneses têm um estilo característico de fazer quadrinhos, chamado Mangá. O Hentai é a estética do Mangá aplicada ao erotismo. As editoras brasileiras Xanadu, Playpress e Minuano publicam cerca de dez revistas de quadrinhos eróticos por mês. As tiragens são generosas, em torno de 35 mil exemplares cada. A imensa maioria dessas revistas são Hentais feitos por brasileiros e vendidos em bancas de jornal, a preços menores que R$ 4. Enquanto os quadrinhos eróticos tradicionais sofrem com a concorrência da TV a cabo, Internet e videogames, os Hentais seguem com ótima saúde. As vendas são, inclusive, impulsionadas pelas novas mídias. "Os desenhos animados e a Internet ajudam a vender Hentais", diz o quadrinista Homero Romero, que desde 1984 cria quadrinhos. A popularização do Mangá deve muito aos desenhos animados que viraram febre nos programas de TV para crianças. Mas o Hentai se tornou popular exatamente pela Internet. Romero explica: "No Japão há muitos desenhistas com um único objetivo, que é trabalhar em empresas de videogames. Eles começaram a usar a Internet para mostrar seu trabalho e optaram pelo desenho erótico porque gerava mais acessos e chama a atenção dos executivos dessas empresas." O efeito da estratégia dos desenhistas japoneses foi divulgar o quadrinho erótico japonês pelo mundo. Hoje, segundo Romero, o Brasil é o terceiro ou quarto maior consumidor de Hentais fora do Japão. E os sites pornográficos assimilaram a tendência, incluindo o Hentai, entre fotos de mulheres nuas. Leitores - O quadrinho erótico tradicional, consagrado por Manara, Crepax, Serpieri e tantos outros, vive um momento de crise. O Hentai conquistou a nova geração de leitores. Mas o organizador da Erotic Art Festival, um vendedor de quadrinhos convencionais (eróticos ou não) em livraria, e o quadrinista veterano que lança no mercado milhares de Hentais baratos por mês concordam numa coisa. Jorge Rodrigues e Homero Romero acham que o leitor de quadrinho erótico não é apenas sedento por sexo. "O que vale é apreciar a arte", afirma Rodrigues. "Não é verdade que o cara compra só para se masturbar", diz Romero. Mais da metade das histórias eróticas que Romero produz atualmente, em Hentai ou HQ convencional, são fruto de propostas de leitores. "Isso é uma prova de que eles se interessam pela história", segundo Romero. Se isso surpreende, ele informa que dentre as histórias propostas por leitores, a maioria vem de mulheres. Erotic Art Festival - Comix Book Shop. Alameda Jaú, 1998, Jardins. De 3 a 11 de agosto, das 11h às 20h de segunda a sexta. Aos sábados, das 11h às 18h e domingo das 11h às 17h. Livros da editora Taschen a partir de R$ 27,90. Álbuns da coleção Ópera Erótica a R$ 9,90, exceto O Clic 2, de Milo Manara, a R$ 15. Hentais variados e HQs de pequeno formato a partir de R$ 1.

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