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Arte de Arthur Luiz Piza ganha retrospectiva em SP

A mais completa revisão de sua obra já realizada no País, com 200 trabalhos, põe em evidência a riqueza de sua arte, que também será exposta no Rio e Porto Alegre

Por Agencia Estado
Atualização:

A Pinacoteca do Estado inaugura sábado a maior retrospectiva de Arthur Luiz Piza já realizada no País, com aproximadamente 200 trabalhos realizados entre 1958 e 2002, dando ao público o prazer de ver em seu conjunto essa significativa produção, ao mesmo tempo solitária e engajada, desenvolvida com um olho no Brasil e outro na França. A seleção nos leva a perceber - e rever - de forma sensível e prazerosa a riqueza desse trabalho desenvolvido ao longo da segunda metade do século 20 e que preserva em seu cerne algumas das questões essenciais da arte brasileira e internacional do período. A idéia de revisão deriva do fato de a exposição deixar propositalmente de lado a produção gráfica de Piza, dissociando-o da idéia de que a força de sua obra está na gravura. "Na verdade, essa exposição mostra que o pensamento dele é o de escultor, que essa é a parte mais poderosa e instigante de sua obra", afirma o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo. Seu primeiro trabalho a ganhar o espaço nasceu em 1958, quando o artista recortou uma aquarela e remontou-a numa colagem ritmada, criando uma espécie de paisagem imaginária, vibrante e tátil. Muito recentemente ele retomou essa técnica, mas com uma leveza lúdica que só a maturidade permitiu que adotasse. Parte desses trabalhos ocupa a última sala da Pinacoteca, numa espécie de conclusão poética e colorida da retrospectiva, e também poderão ser vistas em São Paulo, a partir do dia 29, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud. No Rio, ele também realiza mostra comercial na Galeria Márcia Barroso. Aliás, Piza - que vive em Paris desde a década de 50, mas sempre manteve vínculos fortes com o Brasil - chega ao País com toda força já que, depois de São Paulo, a retrospectiva segue para o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) - parceiro da Pinacoteca nessa empreitada de rever a obra de um dos mais importantes artistas brasileiros em atividade. Para atingir esse objetivo foi essencial o trabalho do Paulo Sérgio Duarte, que além da seleção de trabalhos - pela primeira vez estão reunidas obras de acervos brasileiros e franceses, num reencontro que o próprio Piza celebra -, assina um texto altamente elucidativo de sua poética, abrindo novos ângulos para a compreensão desse trabalho delicado, rigoroso e livre. E mostrando como seus relevos precisos e irregulares são, na realidade, "filhos de uma das últimas utopias estéticas do Ocidente no século 20: o ideal de uma arte universal, historicamente inscrita no mundo da ciência e da técnica". A trajetória ao mesmo tempo solitária e engajada de Arthur Luiz Piza é, nas palavras de Paulo Sérgio Duarte, uma espécie de síntese entre o construtivismo tardio brasileiro e o informalismo que vicejava na Europa quando ele desembarcou por lá com pouco mais de 20 anos e recém-casado, na década de 50. Mas mesmo sendo filho dos modernistas - seu grande mestre foi Antonio Gomide -, admirador da ousadia cubista e da liberdade um tanto romântica de Klee e companheiro daqueles que construíram a história da arte brasileira recente (como Sérgio Camargo e Lygia Clark), Piza soube preservar uma sutil e coerente poética, com poucos desvios ou sobressaltos, como o visitante poderá constatar ao percorrer os quatro blocos em que a exposição da Pinacoteca foi organizada. "Sou parente deles, mas sempre tive medo de ficar preso nesse rigor", conta ele. Após uma introdução em vídeo, na qual se conhece um pouco mais do processo criativo, dos métodos e técnicas do artista, o espectador descobre os primeiros relevos, que timidamente se desenham para fora da superfície. As pequenas formas concentram-se em determinado ponto, como uma epiderme ("relevo é vida, é pele", define ele), ou uma visão aérea de uma misteriosa cidadela medieval. Depois dessa primeira seleção sobre o surgimento e a evolução dos relevos, sucedem-se três outras séries menos sisudas. Após descobrir seu caminho nas pequenas formas que se desenham no espaço, mas ainda precisam da superfície para existir, ele se permite brincar mais, inovar em termos de material, técnica ou suporte. Há um núcleo importante, por exemplo, dos trabalhos sobre tapetes de sisal, os famosos capachos, "que atuam plasticamente com muita força, como se eles próprios já fossem um microrrelevo", explica Duarte. Piza não se lembra como os capachos nasceram, mas conta que via nesses trabalhos a possibilidade de romper com o distanciamento entre a obra de arte e o espectador. Ele pretendia inclusive criar alfabetos com os quais o visitante pudesse contar uma história e durante muito tempo pediu a seus visitantes que eles próprios realizassem composições. "Cheguei a pensar em explorar o potencial terapêutico disso", conta. A exposição também reúne algumas obras que não pertencem ao mundo dos relevos, como alguns projetos de joalheria, de grandes esculturas públicas ("que um dia ainda vou construir") e amostras dos desenhos realizados com obsessão pelo artista, com canetas finíssimas de arquiteto, que carrega junto a si por toda a parte. "Todo dia faço um. Para mim, é como escrever", explica. Por último, entramos no domínio da cor. Os ocres e terras das obras iniciais dão lugar a uma paleta muito mais ampla e vibrante, que ganha força com a transparência da aquarela e a força dos recortes. Arthur Luiz Piza. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, tel. 229-9844. Até 29/9. Abertura sábado, às 11 horas; De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 11 às 14 horas. Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Rua Arthur de Azevedo, 401, tel. 3083-6322. Até 14/9. Inaugura dia 29/8, às 19 horas.

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