Arte curtida em 40 anos de estrada

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Por Redação
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Uma apresentação ao vivo de João Bosco é, como sempre, uma aula. Divisões de fraseado acrobáticas, encarnação stanislavskiana dos personagens que povoam seu cancioneiro, voz e violão operando em sincronia como uma máquina de suingue. No CD e DVD ao vivo João Bosco - 40 Anos Depois, que chega às lojas no fim deste mês, não é diferente. Há uma estética batida de trio jazzístico em que o músico trabalha há um bom tempo, e que nos faz sentir a falta da crueza de suas apresentações solos. Ou imaginar como seria se João Bosco voltasse às suas raízes e tocasse apenas acompanhado de um pandeiro, um tan-tan e um cavaquinho (daqueles que, quando invocados, parecem um pega na geral). Mas isso não ofusca sua genialidade curtida em arranjos distintos de standards brasileiras como Fotografia, e releituras de clássicos seus como De Frente Para o Crime. Um dos destaques é Bom Tempo, samba de Chico gravado em parceria com o próprio. O samba tem uma história curiosa. João é filho de um tricolor doente, mas acabou torcendo para o Flamengo. Quando foi ao Rio pela primeira vez, viu Chico cantando Bom Tempo, cuja letra cita o Fluminense: "Pela estrada que dá numa praia dourada./ Que dá num tal de fazer nada,/ como a natureza mandou./ Vou satisfeito, a alegria batendo no peito,/ o radinho contando direito,/ a vitória do meu tricolor." Lembrou de seu pai e pensou: "Tá aí um cara que poderia ser filho dele", contou em entrevista ao 'Estado', recentemente. E anos depois, rixas futebolísticas familiares já superadas, resolveu gravar o samba para, de alguma forma "se redimir da culpa que carrego por ser flamenguista", diz. "Mas o verso do tricolor quem canta é o Chico", brinca. / R.N.

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