Arte contemporânea de São Paulo une forças

Na mostra Paralela, que começa hoje, estão juntos mais de cem artistas das galerias Fortes Vilaça, Casa Triângulo, Luisa Strina e Brito Cimino

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Por Agencia Estado
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Fortes Vilaça, Casa Triângulo, Luisa Strina e Brito Cimino, quatro das mais importantes galerias de arte contemporânea de São Paulo, uniram suas forças pela primeira vez na história e inauguram hoje a mostra coletiva Paralela, com 102 artistas plásticos, em um galpão de 600 metros quadrados, alugado na Avenida Francisco Matarazzo, ao lado do metrô Barra Funda. Desta centena, 13 participam da 25.ª Bienal de São Paulo, que começa no sábado para convidados e no domingo para o público - caso de Daniel Acosta, José Rufino, Marcelo Solá, Marepe, Vânia Mignone, Paulo Whitaker e o grupo cubano Los Carpinteros. Mas há dezenas de outros nomes de destaque off-Bienal: Albano Afonso, Paulo Climachauska, Valdirlei Dias Nunes, Tiago Carneiro da Cunha, Sandra Cinto, Efrain Almeida, Tonico Lemos. A iniciativa pode marcar nova fase do mercado de arte no Brasil, de par com uma tendência internacional em que as galerias de uma mesma cidade se unem para atrair mais público, críticos, curadores e colecionadores. "Até então, São Paulo segue uma tendência ultrapassada de separatismo", diz Márcia Fortes, sócia da Fortes Vilaça. Posição uninânime entre os galeristas de Paralela - turma que no passado recente não era assim tão próxima entre si -, a postura de trabalho completamente isolada que caracterizou os anos 90 está obsoleta no mundo todo. Agora, a idéia é unir forças em São Paulo, a exemplo do que já acontece, com enorme sucesso, em pólos da arte contemporânea como Nova York, Londres e Berlim. Nestes lugares, é comum as aberturas acontecerem todas em um mesmo dia, para atrair maior visitação. Em São Paulo, como as distâncias são maiores e não existe um bairro que centralize os espaços, caso do Chelsea nova-iorquino, a solução é se reunir em um mesmo local de fácil acesso. A coletiva deve dar impulso extra ao mercado paulistano, já que o período da Bienal é conhecido pela quantidade de curadores, críticos de arte e colecionadores estrangeiros de passagem por aqui. Paralela, que foi anunciada na prestigiada revista americana Artforum, já tem agendadas visitas de representantes da Tate Modern, Miami Art Museum, Instituto de Arte Contemporânea de Boston, Museu de San Diego, Fundação Cartier de Arte Contemporânea, 21st Century Museum do Japão e do diretor da poderosa Feira de Basel, Samuel Keller. Além dos colecionadores Alfonso Pons, de Caracas, e do casal Don e Mera Rubbel, de Miami. Ricardo Trevisan aproveitou Paralela para estrear os novos contratados da Casa Triângulo: a portuguesa Joana Vasconcelos e o gaúcho Mário Ramiro, selecionado do último Panorama. "Também selecionei obras nunca vistas de Sandra Cinto, Marcia Xavier e Lucia Koch", adianta Trevisan. "Já estamos planejando eventos maiores, em que um curador teria liberdade para trabalhar com o acervo de nossas galerias." Um marco - Luciana Brito, sócia da Brito Cimino ao lado de Fábio Cimino, acredita que este projeto pode vir a ser um marco no circuito das artes de São Paulo, pois quebra definitivamente com um padrão antigo de se posicionar individualmente no mercado. "Este know-how veio de nossas insistentes participações em feiras internacionais. Essa competição é saudável para as galerias." Ela exibe obras recentes de seu staff, como os novos trabalhos de Nelson Leirner e Caio Reisewitz. Já Luisa Strina preferiu investir em duas obras de cada artista, apenas brasileiros. "O espectador terá a chance de ver trabalhos de grande porte, inéditos por aqui, que nunca cabem na galeria", diz ela. Este é o caso de Fio, de Cildo Meirelles, instalação de 2 m x 2,5 m que esteve no New Museum de Nova York. Trata-se de uma escultura com montes de feno amarrados com fios de ouro, aglomerado que, segundo o artista, guarda uma agulha perdida. Por conta da centena de artistas em exposição, a montagem é um tanto excessiva em número de obras, que ficam próximas demais e não respiram adequadamente. Se por um lado esta "opção" não compromete a vida individual das peças e cria alguns diálogos interessantes (a pintura de Luiz Zerbini vista através da obra translúcida de Lygia Pape, por exemplo), de outro aproxima construções que pouco ou quase nada têm a dizer uma à outra (como as obras de Vik Muniz e Janaína Tschäpe). "É a poética do excesso", brinca Márcia Fortes. A idéia de realizar Paralela começou a se concretizar em um encontro, no fim do ano passado, entre Márcia Fortes, Ricardo Trevisan mais Fábio Cimino e Luciana Brito. Todos - salvo Luisa Strina, que foi convidada posteriormente - participavam de um seminário no Paço das Artes, sobre a relação das novas tecnologias com as artes plásticas. Trevisan já tinha decidido alugar um espaço para exibir seu numeroso time de jovens artistas paralelamente à Bienal, inspirado na coletiva Camargo Vilaça Bis, uma iniciativa de Marcantônio Vilaça (1954-2000) que, em 1998, época da 24.ª edição, ocupou sozinho um enorme galpão na Lapa e ali mostrou suas crias preferidas. A produção da mostra custou cerca de R$ 100 mil e contou com patrocínio da firma suíça de investimentos Coutts Bank Group, que acaba de abrir uma filial no Brasil. Quem alinhavou o apoio foi Márcia Fortes.

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