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Arquivo tem até desenhos de Nava

Nas pastas de papelão distribuídas pelos armários do arquivo estão muitas das famosas cartas de Pedro Nava. No dia 24 de maio de 1983, escreveu a José Guilherme Merquior para demovê-lo da idéia de o lançar candidato à ABL

Por Agencia Estado
Atualização:

Ainda nos arquivos de Pedro Nava estão registros de 27 anos de trabalho na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Os guardados vão desde o convite para a solenidade de sua posse como chefe do serviço de clínica médica, em 1948, até a indignada carta de 1975, quando rompe com a direção do hospital. Em comunicado dirigido à classe médica, Pedro Nava desabafa: "Incompatibilizado com o mandonismo que passou a imperar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, comunico aos meus colegas e amigos que me afastei definitivamente do serviço que conquistei por concurso em 1948 (...)." A saída de Pedro Nava da Policlínica marcou a dedicação mais constante à literatura e às suas memórias. O próprio escritor doou à Casa de Rui Barbosa, em 1981, os originais de Baú de Ossos, Balão Cativo, Chão de Ferro, Beira-Mar e Galo-das-Trevas. Pedro Nava, no ano da sua morte, em janeiro, fez a última doação, os originais de O Círio Perfeito", lembra a organizadora Eliane Vasconcelos, que trabalhou no inventário com dez bolsistas do CNPq e teve apoio do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, cidade natal do médico e escritor. Interessado na história das famílias mineiras ele guardou inúmeros documentos da família mais tradicional de Juiz de Fora, os Halfelds. Estão lá, por exemplo, documentos descrevendo as sesmarias de Cocaes Grande e Cocaes Pequeno, pertencente aos Halfelds. Ainda sobre Juiz de Fora, Nava reproduziu trechos de um Livro de Contas, onde estão relacionadas "pessoas gratas da cidade" e "maus pagadores e caloteiros". Nas pastas de papelão distribuídas pelos armários do arquivo estão muitas das famosas cartas de Pedro Nava. No dia 24 de maio de 1983, escreveu a José Guilherme Merquior para demovê-lo da idéia de o lançar candidato à Academia Brasileira de Letras. "Mentalmente e no fundo, mesmo sabendo-a inevitável e já na sua hora, rejeito a idéia da morte e uma das formas de rejeitá-la simbolicamente é fugir da glorificação acadêmica", escreveu ao amigo. E arrematou: "Está aí presente e me aconselha a ficar quieto o infarto de Guimarães Rosa, que só se fardou em duas ocasiões: a da posse no transitório e a ocasião definitiva do tremendo passo que temos de dar para transpor a distância milimétrica que separa este mundo do nada. E, julgue-me você maluco ou um supernervoso, a idéia da farda passou a me perseguir e a não me dar mais momento de tranqüilidade." No mês seguinte, reclamava de seus 80 anos. Em carta ao editor José Olympio, o desabafo: "Desde o dia 5 de junho em que entrei para a confraria dos oitentões não tenho tido mais descanso." Desenhos do próprio Nava, como o pouco conhecido Orquestra e os já famosos retratos de mulheres, estão relacionados no seu catálogo de documentos. Há até uma relíquia política: um bônus eleitoral da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek. Era um recibo, com o desenho de JK e a inscrição: "Ajuda financeira para libertação econômica do Brasil. Bônus da vitória - 1 mil cruzeiros. O Sr. Pedro Nava contribuiu espontaneamente para a vitória de Juscelino Kubitschek." Com tantos documentos arquivados, Nava teve o cuidado de pedir aos futuros estudiosos de suas recordações que as manuseassem com "o carinho e o cuidado com que foram guardadas".

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