‘Arquitetura luta contra a gravidade’

Elizabeth preconiza a instalação de espaços flexíveis

PUBLICIDADE

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

A arquiteta e urbanista Elizabeth de Portzamparc tem projetos de abordagem pioneira da arquitetura na França, entre os quais o Museu da Bretanha, em Rennes, e o metrô de superfície de Bordeaux. Atualmente, desenvolve torres e imóveis de habitação em Bordeaux, Metz, além de diversos edifícios no novo centro de Massy, na periferia de Paris. Ela considera que, em termos de arquitetura contemporânea, São Paulo está atrás do Rio, porque seus projetos públicos “evocam mais os anos 1950, 1960, e não uma arquitetura contemporânea, solta, que estabeleça um diálogo forte com o meio ambiente”. A arquiteta crê que sua chegada a São Paulo coincide com um momento de inquietação e retomada. “Está havendo uma reação contra essa arquitetura muito geométrica, o racionalismo paulista. Nos projetos públicos, em geral os júris são compostos de pessoas ligadas a esse dogma de edifícios retangulares, quadrados, uma arquitetura de caixote ou de agulheiro. Acho uma pena, porque isso limita inclusive os arquitetos paulistas”, afirmou. “Esses júris só votam em projetos muito quadrados, que paralisam um pouco a imagem de uma cidade como São Paulo. A cidade precisa ter uma imagem mais dinâmica, mais solta, mais leve.” Segundo Elizabeth, a história da arquitetura é “a história da luta contra a gravidade”, uma guerra na qual a vitória que só se obtém com o máximo de leveza. “A leveza na arquitetura é um parâmetro muito importante. Um parâmetro que indica que a tecnologia tornou possível se obter tal leveza. Mas uma leveza integrada e dialogando com o contexto e respeitando os objetivos de uso”, pondera. “Fazer projetos só de imagem, como fazem os escritórios comerciais, edifícios espetaculosos, mas que não correspondem em nada às funções, à utilização racional, prática, e que.... Tem vários projetos que só são produzidos para obter efeito de espetáculo. São considerados projetos ruins, apenas comerciais.” Elizabeth não é contra a arquitetura de “ícones”, mas é cuidadosa. “Bilbao era uma cidade de arquitetura racional também, como São Paulo, e não tinha evento arquitetural nenhum. O museu de Frank Gehry se transformou num grande evento que atraiu milhões de turistas, e o turismo ali se desenvolveu por causa disso. E aí as pessoas saíram defendendo a construção de edifícios icônicos para revitalizar cidades”, explica. “Mas Frank Gehry cria contexto. Há edifícios que dialogam com o contexto, ele cria o contexto. Então, se cada arquiteto criar um contexto perto do outro, o que vão se tornar as cidades? Têm de ser compostas de alguns edifícios icônicos, que balizam a cidade, e formam marcos, pontos de referência, de orientação, mas é importante que a arquitetura média seja calma e pontuada de edifícios simbólicos. Isso é muito importante para a cidade.” Elizabeth defende que São Paulo intensifique o uso do concreto por razões ecológicas (porque permite maior isolamento térmico e é adequado às mudanças climáticas que se intensificam na região) e tem certa restrição ao uso do vidro, material usado abundantemente na arquitetura comercial paulistana. O vidro normal cria efeito de estufa e obriga a utilizar, sobretudo no verão, o ar-condicionado. “É um material que não é nada sustentável. Para usar bem o vidro, ele tem de ser recoberto de cerâmica, porque aí ele se torna filtrante. Mas os vidros filtrantes normais, os vidros espelhados, são uma imagem americanizada que criam um efeito de estufa. O vidro com cerâmica atenua isso, mas são projetos de custo muito caro para moradias normais e instituições”, considera. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.