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Arquiteto da leveza recebe homenagem na FAU

O alemão Frei Otto, que fez história ao cobrir o Estádio Olímpico de Munique com uma membrana, nos anos 70, está em São Paulo para participar de simpósio na USP

Por Agencia Estado
Atualização:

Está no Brasil desde o começo da semana o arquiteto alemão Frei Otto, de 77 anos, um revolucionário na arte de criar estruturas leves. Ao cobrir o Estádio Olímpico de Munique, nos anos 70, com uma membrana estendida, uma espécie de pele artificial tensionada, Otto fez história. Mas suas experiências com uma arquitetura de insustentável leveza já vinham de muito longe. Bem antes, já desenhava cidades erguidas sobre o gelo da Antártida, redomas ecológicas fincadas em uma lógica meio aracnídea, transparente, pneumática. Uma mistura de muros cobertos de musgo com tendas de beduínos. Professor da Universidade de Stuttgart, Frei Otto é convidado do 1.º Simpósio Nacional sobre Tensoestruturas, que começa nesta segunda-feira no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Rua do Lago, 876, Cidade Universitária). Ele será homenageado na abertura, segunda, às 10 horas. Interessado pela aerodinâmica dos peixes, as microestruturas celulares e o desenvolvimento de uma arquitetura em harmonia com a natureza, Frei Otto também foi pioneiro no uso de um computador para calcular peso e tensão estrutural. Nascido em Siegmar, em 1925, foi prisioneiro de guerra de 1943 a 1947 e notabilizou-se com atividades em campos diversos: designer, inventor, escritor e pensador da arquitetura. Tem uma legião de admiradores no Brasil. "Não esperava que São Paulo fosse tão espetacular", disse o arquiteto nesta sexta-feira, após sair do escritório de Niemeyer, no que ele classificou como um "agradável encontro com um dos heróis da minha profissão, o autor de obras-primas da nossa época". Para Frei Otto, um princípio que o arquiteto deve sempre observar é que "a arquitetura é responsável por integrar pessoas", e a necessidade é seu principal motivo. "Nada pode estar lá em excesso, não importa que seja pedra, madeira, pele de animal ou cabelo que estejam sendo usados", afirma, pregando uma arquitetura do mínimo. "A boa arquitetura parece ser mais importante que a bela arquitetura", considera Otto. "A beleza não é nada sozinha", afirma. Para ele, a bela arquitetura não é necessariamente boa - somente construções que são ao mesmo tempo eticamente boas e esteticamente belas têm valor de preservação. A busca estética de Frei Otto é também uma busca ética. Ele crê que o mundo atual precisa de construções mais leves, menos dispendiosas em termos energéticos, com maior capacidade de serem removidas ("Temos muitos edifícios que se tornaram inúteis e ainda precisamos de novos edifícios", considera), mais aparelhadas para aproveitar os recursos naturais de luz e ar e, ainda assim, que considerem as necessidades de segurança. Suas tendas tensionadas, que motivaram diversos arquitetos pelo mundo afora, hoje estão em garagens, jardins, concertos ao ar livre e todo tipo de evento open-air, abertos. Mobilidade e mutabilidade, são os conceitos que mais desafiam o arquiteto no desenvolvimento de formas. Frei Otto foi professor convidado em Harvard, Yale, Berkeley e no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Mas sua atuação não se limitou ao mundo acadêmico. Em 1977, foi (com Happold) o desenhista do gigantesco teto do palco de turnê do grupo britânico de rock progressivo Pink Floyd. Quase todos os seus princípios, no entanto, já podem ser encontrados na cobertura do Estádio de Munique, que foi sede das Olímpiadas de 1972. Dali em diante, o mundo ficou povoado de tendas.

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