Arne Jacobsen, um mestre do design

Exposição do Instituto Tomie Ohtake homenageia o dinamarquês, autor de objetos difundidos em todo o mundo, no centenário de seu nascimento

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Por Agencia Estado
Atualização:

Uma pequena mostra do rigor criativo de Arne Jacobsen pode ser vista a partir desta quinta-feira no Instituto Tomie Ohtake, com a abertura da exposição em homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto e designer dinamarquês. Responsável por alguns dos mais famosos desenhos de mobiliário moderno, como as cadeiras Formiga ou da série Sete - mais conhecida no País como cadeira dinamarquesa - Jacobsen é uma figura fundamental quando se trata de pensar na produção artística do século 20. Em primeiro lugar, porque ele conseguiu aliar o pensamento moderno de escolas modernistas como a Bauhaus com a tradição escandinava. E também porque em sua obra se encontra tanto a ousadia da novidade quanto o desejo de atender às reais demandas do público consumidor. Mas se a exposição, organizada com o apoio do Centro Dinamarquês de Design - que vem contribuindo com as várias comemorações do centenário ao redor do mundo -, é cheia de atrações interessantes no campo do design (que vão desde maçanetas que se adequam ao formato da mão até à cadeira usada no cenário de 2001 - Uma Odisséia no Espaço), o interesse central do evento é mostrar a relação entre a arquitetura e o objeto de Jacobsen. Afinal, as peças que são conhecidas por todos os aficionados por design ao redor do mundo foram criadas para projetos arquitetônicos específicos, como o do hotel SAS Royal Copenhagen. Infelizmente, seus projetos arquitetônicos estão representados na mostra apenas por meio de fotografias, mas os vários depoimentos nacionais e internacionais em torno de sua contribuição demonstram como é importante tentar compreender sua obra de maneira mais ampla, multidisciplinar. No início, ele ainda se mantém bastante ligado à tradição neoclássica que vigorava em seu País nas primeiras décadas do século 20, mas aos poucos vai aproximando-se do trabalho dos mestres modernistas que admirava, como Le Corbusier e Mies van der Rohe. A primeira grande ousadia de Jacobsen ocorre em 1929, quando participa de um concurso para desenhar a casa do futuro. "Ele projeta uma casa que é ao mesmo tempo um deleite e uma piada", resume a curadora da exposição, Fernanda Machado. Além de circular, para promover uma maior integração social, sua obra incluía uma série de modernidades visionárias, como um heliporto, que eles chamaram de "girocóptero", e um sistema que ficava na entrada da casa para sugar a sujeira dos sapatos. "É na década de 30 que ele solta as amarras, projetando um complexo de residências com vista para o mar chamado Bela Vista", explica Fernanda. Partindo de uma planta extremamente simples, ele passa a lidar com a questão do ritmo e da repetição, que, segundo a curadora, é uma característica importante de sua obra. Exílio - Após um período de exílio na Suécia - ele era judeu e achou melhor precaver-se contra o nazismo -, onde desenvolveu um trabalho mais gráfico, ligado à criação têxtil e manteve os primeiros contatos com a cultura japonesa, ele voltou a seu país natal com toda a energia. "É sua fase madura, na qual ele colhe os frutos de seus estudos anteriores", diz Fernanda. O fato de sua arquitetura ser menos conhecida internacionalmente deve-se, segundo a curadora, a fatores diferentes. Além de ter ousado menos no campo arquitetônico, ficando preso a materiais e iniciativas mais clássicas - e mesmo assim obras mais vanguardistas como a do hotel já citado ou da prefeitura de Aarhus não tiveram grande aceitação do exigente e um tanto conservador público dinamarquês -, os objetos de design não estão tão presos a questões de ordem construtiva. "Seus móveis são mais orgânicos, mais agradáveis, mais universais", explica Fernanda, que chegou a trabalhar mais de um ano no escritório de Jacobsen e pôde ver de perto o clima de seriedade e rigor imposto pelo arquiteto e herdado por seus sucessores. Bastante criterioso, evitando qualquer exagero e fazendo uma aproximação bastante interessante entre desenho, função do objeto e demanda, Jacobsen conseguiu convencer a indústria a investir em projetos que inicialmente pareciam meio amalucados. E que até hoje estão presentes em qualquer escritório da Dinamarca, numa mostra de democratização do design de qualidade que estamos longe de ver no Brasil. É o caso, por exemplo, da cadeira Formiga, sua peça mais famosa, pelo menos entre designers. Ele a desenhou para um refeitório de fábrica, num período de carestia de material e espaço e, portanto, projetou-a com apenas três pernas. Hoje existe a versão de quatro pernas e em 22 cores diferentes. Uma variação maior ainda ocorreu com as peças da série Sete - uma das cadeiras mais produzidas e copiadas no mundo -, o que comprova seu sucesso de público. Para aqueles que tiverem interesse - e condições - de comprar uma peça exclusiva, os fabricantes decidiram reeditar por cem dias algumas peças históricas, como a Formiga de três pernas e a mesa Ovo. Serviço Arne Jacobsen. De terça a domingo, das 11h às 20h. Instituto Tomie Ohtake. Avenida Faria Lima, 201. Tel.: 6844-1900. Até 7/7. Abertura quinta, às 19h.

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