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Arnaldo Antunes reúne ensaios em novo livro

40 Escritos traz desde artigos publicados em jornais e revistas até releases de discos e catálogos de exposições de arte

Por Agencia Estado
Atualização:

Arnaldo Antunes não esconde o sentimento de inveja com relação a Paulo Leminski. Uma inveja do bem que beira a devoção. Afinal, o poeta paranaense batizou uma de suas obras ensaísticas com o achado Anseios Críticos (1986), o que, segundo Antunes, seria o título ideal para o seu novo livro, 40 Escritos (Iluminuras, 152 páginas, R$ 25,00), que ele lança nesta quinta-feira no Blen Blen Brasil. "Leminski fez um trocadilho com ensaios´´, explica ele. Para Antunes, o livro de Leminski é repleto de anseios que, na verdade, não se configuram enquanto gênero específico de ensaio. "Como eu, ele não tinha o desejo de ser um teórico, mas sim um criador fazendo aquilo como se fosse um clandestino na área ensaística.´´ Os textos que compõem 40 Escritos remontam 20 anos de reflexão de Antunes. Os temas são variados e têm como suporte desde artigos publicados em jornais e revistas até releases de discos, passando por catálogos de exposições de arte. "Faz anos que eu tenho desejo de reunir estes textos", revela. No entanto, o autor conta que o desejo era acompanhado pela dúvida. "Será que a grandeza dos textos não está justamente no destino efêmero que eles têm nos meios circunstanciais como jornais, revistas e releases?" Mas, com o passar do tempo, o corpo de intervenções foi aumentando. Arquivado em uma pasta, vez por outra, o material recebia a visita do autor. Nessas retomadas, Antunes percebia que no material havia o desenvolvimento de algumas questões que eram recorrentes de um texto para o outro. Ele cita como exemplo a questão do trânsito entre os diferentes códigos, a ruptura entre baixo e alto repertório e as ditas artes cultas e populares. " Houve o amadurecimento de algumas questões, o que, de certa forma, foi um dos motivos para reunir os textos num volume." Posto isso, Antunes convidou o poeta João Bandeira, que assina o prefácio do livro, para auxiliá-lo na seleção. "Eu era muito apegado ao material para ter o distanciamento crítico necessário." Os dois debruçaram-se sobre 60 artigos. Não houve um critério absoluto para a disposição deles. Contudo, estabeleceu-se que o livro apresentaria uma ordem cronológica com o trajeto coeso das idéias no decorrer do tempo. "Alguns textos do começo são ingênuos, mas representam uma etapa do meu pensameto que é importante", reconhece o autor, que acaba de completar 40 anos. "Foi uma feliz coincidência o João propor 40 Escritos para dar título ao livro." Reprodução/AECapa do novo livro Contrabando - Ainda que seja um livro que trata de outras pessoas ou eventos, 40 Escritos é extremamente pessoal, quase autobiográfico. Impressão captada pelo autor quando da leitura das primeiras provas do material. "A releitura me espantou", diz ele, ressaltando a presença constante do desejo de desviar o olhar para vários lados. Nesse sentido, o direito de atuar em várias frentes é uma questão de honra para Antunes - o que fica evidente no livro. Avesso à especialização, que, segundo ele, é, em grande maioria, fruto do reacionarismo, o autor busca na modernidade justificativas para a multiplicidade. "A modernidade nos ensina que os elos entre o tato, a visão e os outros sentidos estão se reatando´´, prossegue. "O contrabando de informações de um território a outro faz parte do meu barato há muitos anos." Ele não está exagerando. No ínicio dos anos 80, ainda como estudante de Letras, Arnaldo dividia seu tempo pré-Titãs entre as atividades da Banda Performática, a edição da revista Almanak 80 e exposições de caligrafias nas galerias paulistanas.Vinte anos depois, oito deles após o surpreendente desligamento dos Titãs, Antunes está envolvido na pré-produção do quinto álbum-solo, prepara uma obra inspirada numa canção de Gilberto Gil para uma exposição de artes plásticas no Rio e exercita o lado ator, recitando Eça de Queirós no videoclipe Amor I Love You, da amiga Marisa Monte. Ainda na multiplicidade, o autor cita uma das suas mais recentes alegrias: ver transformada em espetáculo de dança a trilha sonora criada por ele para o Grupo Corpo. A coreografia O Corpo estreou em São Paulo no mês passado e agora corre o País. O autor compôs uma peça ininterrupta de 42 minutos que está também disponível em CD. "Eu entreguei a trilha e eles fizeram as coreografias, é muito gratificante ver a música acontecendo no corpo dos bailarinos", continua. "Aspectos desconhecidos dela são realçados pelo movimento, o som vira imagem física, é muito bonito." Farpas - Há polêmicas no livro. Os artigos Derme/Verme (1991) e Poesia Concreta (1994) são sintomáticos. Neles, Antunes toma partido de Augusto de Campos após as críticas proferidas por Régis Bonvicino e Bruno Tolentino. Noutro deles, Riquezas São Diferenças (1992), o autor faz um paralelo entre Michael Jackson e Macunaíma (ao avesso) para questionar certos desmandos da imprensa. "Não gosto tanto desse tipo de polêmica, os textos estão no livro para expor o que eu penso", explica. "O ritmo acelerado da imprensa é muito cruel, reconheço que eu estou numa situação confortável, pois posso fazer os textos dentro de um tempo todo próprio e de intervir quando quero", diz ele salientando, porém, que a pressa e a objetividade não devem servir de pretexto para a inconseqüência. 40 Escritos - 152 págs. Editora Iluminuras. R$ 25,00. Blen Blen Brasil (R. Inácio Pereira da Rocha, 520, tel. 212-9333). Quinta-feira,a partir das 20 horas.

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