Arnaldo Antunes lança livro de poesia e imagens

Em mais uma incursão pela poesia, desta vez Arnaldo Antunes associa palavra e imagem no livro Et Eu Tu, que lança hoje em parceria com a artista plástica Marcia Xavier

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Tudo começou com uma troca de e-mails, a princípio, sem grandes pretensões. A artista plástica Marcia Xavier enviava fotografias e fotomontagens para o amigo Arnaldo Antunes. O músico e poeta, por sua vez, retribuía com poemas que, de alguma maneira, dialogavam com aquelas imagens. A dupla permaneceu um ano neste processo criativo, que apontou para a possibilidade de se tornar um livro, diante do volume de material produzido por eles. E realmente se tornou, sob o título Et Eu Tu, que será lançado pela editora Cosac & Naify, hoje, no Instituto Tomie Ohtake. Com um projeto gráfico ousado, Et Eu Tu é fruto do desejo de Marcia de investigar a palavra aliada a imagens. Desejo esse que foi desencadeado por diferentes motivos, seja pela referência ao trabalho dos artistas de vanguarda russa Alexander Rodchenko e Wladimir Maiakovski (Rodchenko criou uma série de colagens para o poema Isto, de autoria de Maiakovski), seja pelo ímpeto puro e simples da experimentação. "Muito do que a gente vê hoje usa palavra e imagem, coisas até banais, como o outdoor", completa Marcia. Marcia é uma artista plástica respeitada. Gosta de trabalhar com fragmentação do corpo em auto-retrato, feita com máquina Polaroid; de fazer registros fotográficos de espaços amplos e vazios; de utilizar objetos óticos ou espelhos em investigações fotográficas. Na última década, ela formou um amplo arquivo de imagens, tudo desengavetado em função do projeto. Grande parte do que se vê em Et Eu Tu é oriundo destes dez anos, mas o livro contém ainda algumas fotomontagens e registros recentes. Para dialogar, complementar ou contextualizar tais imagens, os poemas do livro vêm cheios de simbolismos e metáforas de Arnaldo Antunes, e muitas vezes são desconstruídos. A quebra dos versos acaba gerando um novo sentido ao todo, ao se criar uma nova palavra, um novo discurso na mesma sintaxe. "Isso eu já vinha fazendo, tanto que existe o livro 2 ou + Corpos no Mesmo Espaço. O nome veio um pouco disso, de eu fazer poemas nos quais se pode ler dois ou mais poemas num mesmo discurso", diz. Quem acompanha a trajetória de Antunes sabe de sua paixão pela palavra não só expressada pela música, mas também pela poesia escrita ou visual. "Eu também sempre gostei de misturar diferentes códigos, de contaminar a palavra por outros códigos. Ao mesmo tempo, gosto de trabalhar em parceria, ter de me adequar à linguagem de outra pessoa", diz. "Mas a grande questão é como esses dois códigos (imagem e palavra) se combinam graficamente." A desconstrução também se faz presente na seqüência das imagens/poemas. Ou seja, não há uma lógica narrativa ou numérica. Pode-se abrir o livro em qualquer página, sem que isso prejudique o entendimento do todo. Arnaldo Antunes, no entanto, prefere lê-lo em seqüência. "Apesar de cada combinação de texto com imagem ter uma autonomia, a seqüência dele acaba dando idéia de um poema na passagem de um poema para outro." Depois de São Paulo, o próximo lançamento ocorre no dia 25, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte. Et Eu Tu - Poemas de Arnaldo Antunes. Imagens de Marcia Xavier. Ed. Cosac & Naify, 200 páginas, R$ 79. Lançamento hoje, às 20 horas. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88,tel. 6844-1900

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.