09 de novembro de 2012 | 11h38
Nãããooo. Iniciou uma nova carreira como diretor. Foi há cinco anos, com Medo da Verdade. Veio depois Atração Perigosa. Os críticos começaram a se dar conta de que Ben Affleck pode ainda não ser nenhum Clint Eastwood na direção, mas também não é só um diletante que resolveu se exercitar por trás das câmeras. Ele acaba de completar 40 anos (em 15 de agosto). Entra nos ?enta? em alto estilo, admirado pelos colegas (como Colin Farrell), estável na vida pessoal (com Jennifer Garner) e cada vez mais prestigiado como diretor. O terceiro longa, que estreia hoje, é Argo, ambientado na crise dos reféns, no Irã, nos anos 1970.
Tem cara de Oscar. Na imprensa norte-americana, as primeiras sondagens lhe dão 9X1 de que estará na disputa do próximo prêmio da Academia de Hollywood. Está sendo uma trajetória e tanto desde que, em 2004, Affleck ganhou a Framboesa de Ouro como pior ator, pelo conjunto de sua obra no ano (Contato de Risco, Demolidor e O Pagamento).
Aquele talvez tenha sido o pior ano da vida de Affleck. Ele ainda amargou o fiasco da união com Jennifer Lopez. A dona do bumbum mais desejado da ?América?, quiçá do mundo - designá-la pelo traseiro não é nenhuma tentativa de objetalização; foi ela quem seguiu esse caminho ao privilegiar a anatomia na tela e nos shows -, teve com ele uma relação relâmpago, da qual saiu chiando (e já casada com outro). Para Affleck, era aceitar o fracasso ou reconstruir-se. Sabe o tema da segunda chance, essencial na cultura dos EUA (com o da eterna ?volta ao lar?)?
Foi o que fez Ben Affleck. Recomeçou/encontrou-se (como ator/diretor).
Hoje, particularmente, deve estar feliz. Democrata convicto, Affleck participou da campanha de Al Gore em 2000 e apoiou Barack Obama em 2008 e 2012. A reeleição do presidente e os elogios para Argo são motivos de euforia. Mas Affleck trata do que está sendo um vespeiro para Obama. O risco de uma bomba atômica iraniana pressiona os republicanos a que o presidente adote medidas duras - militares? - contra o regime de Mahmoud Ahmadinejad.
O novo longa de Affleck como ator e diretor, além de remeter a uma questão que deixa subtendidas outra - espinhosa -, lembra Mera Coincidência, que David Mamet escreveu para Barry Levinson. Lembram-se? Um presidente norte-americano envolvido num escândalo sexual, contrata uma equipe de Hollywood para simular uma guerra e distrair a opinião pública.
Agora, no filme de Affleck, um agente da CIA - o próprio ator e diretor - tenta resolver pela via da ficção uma crise de verdade. A ascensão do regime dos aiatolás, no Irã, não apenas depôs o Xá, tradicional aliado da América, como colocou no poder Khomeini, para quem os EUA eram o ?grande Satã?. No quadro de manifestações antiamericanas, seis diplomatas asilaram-se na embaixada do Canadá. Todas as tentativas de solução pacífica para a crise fracassaram. Seria arriscado usar a força. Os EUA passariam de agredidos a agressores. Justamente por se recusar ao papel, o então presidente Jimmy Carter não foi reeleito. Era um presidente ?fraco?, segundo os padrões norte-americanos.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo
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